Mais um texto que faz parte do resultado de um trabalho realizado em sala de aula, durante o processo de ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa e suas Literaturas. A sequência didática teve início com a apresentação de seminários de leitura de textos literários por turmas de 1º Ano do Ensino Médio do Instituto Federal de Educação e Tecnologia - Campus Mossoró/RN, abrangendo, desde a literatura trovadoresca à Árcádia Brasileira. Na sequência, elegemos a temática da Literatura de Viajantes e de Catequese para a realização de um debate (como atividade de produção oral) e um texto em forma de artigo, nos quais fossem defendidas teses acerca dos efeitos da Colonização no Brasil. Os alunos teriam que deixar claros resultados para o colonizador ou o colonizado. Tudo com base na leitura de textos literários.
Os melhores textos, prometi postá-los aqui no blog. Eis aí o segundo texto escolhido como um dos melhores:
Pedro Duarte Costa |
TERRA BRASILIS
“Os
estrangeiros, eu sei que eles vão gostar
Tem o Atlântico, tem vista pro mar
A Amazônia é o jardim do quintal!
[...]
Nós não vamos pagar nada
Nós não vamos pagar nada
É tudo Free,
Tá na hora agora é Free,
Vamo embora
Dar lugar pros gringo entrar”
Os
trechos acima pertencem a canção “Aluga-se” do célebre cantor Raul Seixas, que
define (de forma irônica) um período da história do do nosso país que nos
definiu enquanto nação e sociedade: a colonização. No período das Grandes
Navegações, Portugal e Espanha despontavam como potências marítimas, lançando
diversas empreitadas ao mar e conquistando territórios por todo o globo,
notadamente a América, único continente que ainda não estava integrado ao
“mundo conhecido”. Liderados por Pedro Álvares Cabral, os primeiros europeus
desembarcaram no nosso país no ano de 1500 e assim se iniciou o processo de
colonização do nosso país, perdurando por mais de 300 anos, influenciando até
hoje o modo como vivemos e a realidade da nação.
Inicialmente pouco relevante para a metrópole,
a colônia brasileira ganhou importância após a perda do monopólio português
sobre as especiarias indianas, iniciando assim um efetivo controle sobre o
território que hoje forma o Brasil, com a criação do Governo Geral e a
implantação do modelo de produção plantation.
Ficou claro que Portugal visava sua colônia como fornecedora de
matérias-primas, como é observado na exploração do Pau-Brasil, primeira
degradação ambiental do país que devastou a Mata Atlântica, um rico e diverso
bioma que hoje possui apenas 7% da área original. A cana-de-açúcar foi um dos
sustentáculos da economia colonial do século XVI, definindo a afirmação do
modelo latifundiário que até hoje predomina no setor primário e que é a base do
agronegócio nacional: extensas propriedades de terra tendo uma única cultura
cultivada sob o mando de poucas famílias, objetivando a importação, em
detrimento de pequenos agricultores, que sofrem com a falta de infraestrutura,
incentivos governamentais e com a concorrência das grandes empresas, além dos
inúmeros trabalhadores que lutam pelo direito à terra.
A centralização do poder e a existência do
pacto colonial levaram a um retardamento do progresso econômico brasileiro: a
indústria, proibida pelo governo português, só foi implantada no século XIX e
se consolidou no século XX; a agricultura foi durante a maior parte da história
do país a base da economia, tornando a macroeconomia sensível aos mercados
externos e as crises climáticas e condições naturais; os produtos manufaturados
só podiam ser importados da metrópole sob uma carga de tributos altíssimo. A
descoberta do ouro e outros minerais preciosos no século XVII serviu apenas aos
interesses da monarquia, não trazendo nenhum benefício para as regiões
mineradoras.
Uma das mais graves consequências da sangrenta
colonização foi o extermínio dos povos indígenas e o desaparecimento da cultura
nativa. Os portugueses em um primeiro momento iniciaram a sua escravização,
levando milhares as mortes devido a mudança abrupta no seu estilo de vida e
brutalidade dos europeus que possuíam tecnologia militar mais avançada não
hesitando em realizar massacres. As transmissões de doenças oriundas da Europa
também contribuiu para a dizimação dos povos nativos, que foram submetidos as
hostilidades europeias como o fato de mulheres indígenas terem se tornados
concubinas e submetidas à estupros. Mesmo contando com a proteção da Igreja,
que era uma ferrenha adversária da escravização indígena (como se observa na
ação da poderosa Companhia de Jesus), os indígenas viram sua cultura
desaparecer pois os missionários exigiam uma conversão total, renegando as
tradições, práticas e costumes dos chamados “gentios”, forçando-os a adotarem o
cristianismo e o estilo de vida dos povos da Europa. Estima-se que no período
pré-Cabral existiam mais de 5 a 10 milhões de índios que falavam mais de 1500
línguas. Hoje restam apenas cerca 800 mil brasileiros que se declaram índios e
pouco mais de 300 idiomas nativos, uma verdadeira catástrofe socio-cultural.
Esse tratamento dado aos índios até hoje influenciam uma cultura preconceituosa
e estereotipada, sendo que muitos negam o legado indígena e sua contribuição
para a formação da nação brasileira.
Uma das características mais brutais da
colonização da portuguesa foi a escravização dos africanos. A resistência
indígena e os protestos da Igreja levaram a Coroa a recorrer uma mão-de-obra
muito mais produtiva e lucrativa: o negro africano. Milhões cruzaram o
Atlântico e foram submetidos as mais vis condições, eram tratados como objetos:
eram vendidos, castigados, estuprados, etc. A economia baseada na escravidão
foi um baluarte do país até o final do século XIX e somente na década de 1940 é
que se estabeleceu a mão de obra livre e assalariada, base de uma economia
moderna. A escravidão deixou traços que até hoje marcam a sociedade brasileira:
o preconceito racial e exclusão dos negros é uma grave problema que o Brasil
ainda enfrenta. Joaquim Nabuco afirmou que, mesmo depois da Abolição, “a
escravidão permanecerá durante muito tempo como característica nacional do
país”.
O modelo lusitano de colônia de exploração
resultou em um Estado burocratizado e pouco funcional que hoje é um verdadeiro
tormento na vida dos cidadãos. Sua letargia em responder aos problema sociais,
políticos e econômicos gerou a grave situação social presente no nosso país. O
Estado brasileiro já foi descrito como “cliente das elites” devido o seu
domínio pertencer as mais importantes classes brasileiras: branca e rica. Um
restrito número de pessoas possuem a maior parta da riqueza e controlam a
educação, extremamente defasada e subserviente aos seus interesses (forma mão
de obra barata e servil), a mídia (parcial e alienadora), política (oligárquica
e corporativista, propiciando o surgimento da corrupção) e as leis (branda com
os poderosos e rígida com os pobres). A inércia dos governantes reflete na
triste realidade social que impera pelo Brasil, produzindo assim altos índices
de violência e péssimos serviços públicos.
Por fim, constata-se que a colonização do
Brasil por Portugal, exploradora, sangrenta e brutal, resultou em uma série de
consequências que persistem até atualidade. Um verdadeira violação do mais
fundamental, humano e natural dos direitos: a liberdade e a autodeterminação,
como bem expressou o estadista norte-americano Thomas Jefferson na Declaração
de Independência dos Estados Unidos:
“Todos os homens são criados iguais,
que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes
são vida, liberdade e busca da felicidade”.
PEDRO DUARTE COSTA é aluno do curso de Eletrotécnica do IFRN - Campus Mossoró/ RN
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