PROIBIDO COMENTÁRIOS ANÔNIMOS

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quinta-feira, 27 de setembro de 2018

[CRÔNICA] DEUS ME LIVRE DE PEPINO ANTÔNIO!





Eu era criança. Anos de 1973-1974. Lembro do som fraco do rádio de pilhas, de marca Nordson que meu pai ligava toda madrugada. Um verso das músicas sertanejas-caipiras que nunca esqueço era cantando quase falado, num grito da dupla sertaneja Jacó e Jacozinho:
__ Deus me livre de pepino Antônio!.
Esse gritinho era dado logo após uma repetição negativa:

Eu não quero mais pepino,
eu não quero mais pepino.

Parecendo uma comediazinha musical, eu achava engraçada aquela toada. E sempre acordava para ouvi-la. Acho que naquele momento fazia um sucesso danado! E o meu pai, sempre foi muito apreciador de músicas e do rádio. Quem o conhece, sabe. O violão e o cavaquinho ainda são seus companheiros, mesmo ao patamar dos 80 anos.
Pois bem! Mas, essa lembrança de um verso musical dos anos de 1970 não me remete apenas à graça que ele tinha e nem do bis no refrão da peça. É que a letra narra a história de um agricultor que queria plantar melancia porque o preço estava bom; arou a terra, comprou a semente, mas, quando a plantou, só nasceu pé de pepino. Foi enganado pelo vendedor da semente. Perdeu o plantio e ainda enjoou o pepino por dois motivos, de tanto que deu e não vender porque não tinha um preço bom. Claro, o produto acumulou.
Mas, depois de certo tempo, depois de várias leituras e análises sobre o contexto da época, descobri que a tal letra, nada mais era do que a paródia da vida real. Coisas que eu, de pouca idade e leitura, muito criança ainda, não compreendia. Embora vivesse os fatos: a miséria, a fome, a necessidade, a falta de moradia e vidas digna. Chegando ao ponto de ver irmãos meus morrerem, por motivos que só depois descobri, nas aulas de ciências, que se ligavam àquela miséria, causada pelo abandono dos governos da época.  
Nós morávamos em uma casa de taipa. No início era que só o telhado, porque ia sendo feita aos poucos: colocava-se a madeira de sustentação do teto, depois pregavam-se as varas, e por fim, tapava-se com barro. Nós, começamos a morar na casa antes de tapar. Nessa condição, a madrugada também era sinônimo de frio e medo. Se não fosse o radinho de pilha e as músicas tocadas no programa sertanejo do Zé Béttio, o momento era só de medo e frio mesmo.
Eram eu e meus irmãos outros irmãos, naquele momento quatro: eu, Vilma, Patrício e Raimundo. Uma irmãzinha já havia ido embora como anjo, aos seis meses de vida. Foi diarreia, mas a minha mãe dizia que tinha sido “quebranto”. Nunca a questionei, não nessa época. O intrigante é que as condições da nossa alimentação eram muito duvidosas quanto a ingerirmos o suficiente em nutrientes que realmente fossem adequados a uma vida saudável.
Nós tínhamos que suportar a ideia do amanhecer e não ter o quebra-jejum. No almoço, o cardápio repetido do feijão, óleo e farinha. Quando tinha a farinha. Isso tudo, ao que parece, na minha interpretação atual, pela mesma falta de “sorte” que era relatada na música da dupla que dizia:

Eu não quero mais pepino,
eu não quero mais pepino.

 Uma “falta de sorte” que só os coronéis do mandonismo e clientelismo simpático sabiam, pelo preço por cabeça. Sim. Votos que eram contados por cabeças. Depois esse tipo de domínio político adquiriu um nome próprio. Mas, ei nem vou dizê-lo, tenho certeza que muita gente sabe. Talvez não admita, mas, sabe.
Aliás, admitir os fatos mais tenebrosos dessa época é algo realmente difícil. Não sei se há memórias diferentes da minha, que não faltou caixinhas para guardar cada detalhe e trazer comigo até hoje as mais terríveis experiências de forme da infância. Nem vou enumerar, são muitas, e tristes. Mas, eu uso-as como lição na minha vida diária. Em especial para observar fatos que se relacionam com a história do país e os seus reflexos na vida do povo. Só sei que muitas das minhas amiguinhas da época, parecem ter esquecido. Ou lavado a mente, tanto quanto a alma. Eu não.
Minhas lágrimas ainda escorrem quando lembro dos copos de água que tomava para encher o estômago e aguentar até 11:30 sem comer. Hora que terminava as atividades da escola, lugar onde aprendi quase tudo da vida. Em casa eu só aprendi a gostar de ler, com minha avó analfabeta. Ela costumava narrar histórias oralmente para mim, e eu as descobri depois impressas nos livros. Nunca virei bruxa má, nem feiticeiro do pé grande, nem meu nariz cresceu e nem me iludi com sapatinhos de cristal. Essas histórias me ensinaram outros valores, apesar de nos seus enredos constarem toda atitude originada de sentimentos ruins: inveja, maldade, crueldade. Basta citar a Branca de Neve para compreender.
Mas, nesse tempo, o fato que mais me chamou atenção na minha casa foi a morte de Raimundo, um dos meus irmãos que não resistiram às mazelas de um tempo que hoje é desejado por muitos. Ele tinha mais de uma no, quase dois. Já andava e tudo. Mas, o tal do “quebranto” o fisgou. Passei dias tristes porque ele era um menino que eu ajudava a cuidar. Naquele tempo, as meninas começavam cedo a ajudar a mãe. Até hoje eu acho que esse era um costume que não devia ter acabado. Aquele quebranto matou meu irmão. E eu até hoje lembro do seu rosto.
Ficamos três novamente. Em 1974, nasce mais um irmão e pronto. A conta se encerra. Mas ele nasceu prematuro, de sete meses. Minha mãe, até hoje diz que foi porque ela presenciou uma briga e teve um “vexame”. Hoje em dia dizem por aí que é porque quando a mulher não cuida dos dentes, tem muita cárie, aí o bebê pode nascer antes do tempo. Já eu, pela bagagem de conhecimento que adquiri posteriormente, duvido muito que tenha sido por isso. Acredito que a fome, as condições alimentares, a falta de um sistema de saúde mais adequado à mulher gestante naquela época tenha sido a causa. Mas, eu sei que isso pode ser contestado, porque tem gente que tem certeza que os conhecimentos científicos foram desconstruídos. Vejo mesmo que alguns foram mudados para beneficiar os salvadores da pátria que dizem estar em falência.
Realmente não está bom. Olhar o nosso tempo e ver que as suas experiências, os fatos da sua memória, o que você viveu e as lições que aprendeu, e até o tempo que você já viveu não podem ser considerados como exemplo, nem para seus filhos, não é um tempo bom. Quando a verdade é evitada de ser ouvida para se dá credibilidade a projetos no escuro, não é um tempo bom. Nesse formato, é um tempo que fere, muito mais por dentro do que por fora. Muito mais do que muitos nem imaginam quando nem olham ao seu redor e somente se importam em atacar para “ganhar”, nem sei o que.
 Vivemos um tempo sombrio, de farpas, de excessiva competição pelo poder, de discursos que muito mais ferem do que esclarecem, de sede de morte, de tortura e de sangue. De obsessiva busca pela demonstração de superioridade, de ser melhor, mais correto, mais moralista e de estranha polarização por um lugar no céu, seja este material ou espiritual, tenho certeza: no terceiro dia de feijão, óleo e farinha, a frase “eu não quero mais pepino” vai ser repetida dezenas de vezes e não será no refrão de uma música.
Essa possibilidade é o que me faz continuar com o gritinho de Jacó e Jacozinho:

__ Deus me livre de pepino Antônio!

Mônica Freitas

sábado, 22 de setembro de 2018

[CRÔNICA DO DIA] O CANSAÇO



Imagem ilustrativa

Um conhecido me encontra na rua e pergunta:
__ E aí, como vão as coisas?
Acostumada em saber que as coisas sou eu mesma, respondo:
__ Bem, tudo bem!
No trabalho, todos os dias escuto a mesma pergunta. A resposta é sempre a mesma. Às vezes, automática, sem sentido, apenas para cumprir a convenção do “pergunta e responde”. Uma forma de lançar uma lona preta no corpo que está estendido ao chão, morto pelo cansaço.
Aliás, esse tal cansaço é o mais dissimulado, hipócrita, divagador e peralta entre tantos fenômenos que o mundo dispensa à humanidade. Ele está sempre ali. Às vezes invisível, às vezes sombra e às vezes bem óbvio. E neste último caso, rir da cara de todos, faz chacota, dispara horrores. Mata até as palavras que dão vida. É um poderoso antídoto contra a paz interior. Além de efervescer multidões quando se fala de expulsar o que está dentro para fora.
Nestes tempos de hipocrisia, mentiras, espertezas e propagação da ganancia pelo poder, ele (o cansaço), esbagaça o discurso do mais astuto duende da linguagem. Ele se transforma em um soberbo gigante do pé grande, igual os que atuavam como feiticeiros nos contos maravilhosos. Quando chega em lugares de gente menor, só um “pisão” mata milhares de vozes.
Mesmo que em meio àquela multidão haja um mágico ou uma fada madrinha, a cena que se consegue visualizar é do minúsculo ser humano sendo apertado por cinco dedos de um gigante mau.
Às vezes eu vejo uma serpente falando com Eva e Adão.
O Cansaço é também um Anticristo. Ele confronta todas e até outras bem-aventuranças do Pai, do Filho e do Espírito. Troca amor por ódio, vida por morte, paz por guerra, PERDÃO por CONDENAÇÃO. Cristo muda seu percurso inteiro. Nem teve vida e nem morte. E o que é do céu muda de lugar.
Só que ninguém nota. A lona escura que o encobre torna o produto da sua alma imperceptível. Como disse, é dissimulado. E sua função principal é cansar a todos, até conseguir a façanha de enobrecer e fazer permanecer a razão do mundo.
Sou e tenho como certo que serei sempre sua presa. Embora tenha conseguido fugir de algumas de suas investidas, em silêncio.  Falar, às vezes não adianta. A voz fica rouca, quase nem se escuta. E a voz dele é estridente, arrogante, profunda, conforme seus objetivos; portanto, metamórfica. E sendo assim, muito compreensivo perceber os que o seguem, muito bem cansados.
Até aqui vou fugindo dele. Estou escondida em meio a um arsenal de símbolos que não me protegem, antes me atiçam. Os cutucões quentes que perfuram até a alma, os gritos que confundem, as imagens que estarrecem e a crônica diária que vai sendo contada pela natureza das coisas, de vez em quando me chama, pede socorro. Eu apenas olho, penso no cansaço e me calo. É que ficar imóvel e em silêncio evita-o.
A preguiça, nesse sentido, é muito melhor. Passa voando, não se prende ao chão e ajuda a fugir do pé do gigante, é mais saudável e benéfica, salva a vida.
Depois de um olhar e um sorriso sem gosto lançado ao conhecido, sigo em frente respondendo todas as outras perguntas que vão sendo enunciadas pelos demais, com aquele famoso e dissimulado:
__ Bem, tudo bem!
E em casa, durmo. 

Por Mônica Freitas

sábado, 15 de setembro de 2018

[ARTIGO DO DIA] O DISCURSO POLÍTICO QUE NEGA A EDUCAÇÃO



Imagem extraída de: 
http://kdimagens.com/imagem/nao-tem-educacao-nao-1410



Desde os 10 anos de idade aprendi, na escola, que o bebê não é trazido em um saco pendurado no bico de uma cegonha, como as pessoas insinuavam e os livros de história infantil abordavam. Os professores de Ciências Naturais, explicavam claramente de onde vinha o bebê, mesmo nos anos 70, os chamados anos de chumbo do Regime Militar. E eu acho que, por não haver eleições nessa época, para governadores e presidentes, ninguém nunca questionou a escola, os livros e os professores por isso. Aliás, professor nem podia ser questionado nesse tempo, por nada. Ele era dono do saber, respeitado por antecedência e excelência; e o aluno não podia falar nada, nem a família.

Mas, eu aprendi muita coisa nesse contexto. De tudo que fazia parte do corpo humano. Esta era o nome da unidade de ensino. Desde as localizações dos órgãos gerais do corpo aos de reprodução, que eram o masculino e feminino, aos que são comuns em ambos os gêneros eram abordados. Sim, era ensinada uma ideologia de gênero. Esse conceito já existia na escola porque biologicamente a ciência explica que existem os órgãos físicos que identificam o macho e a fêmea entre todos os seres vivos. Embora também já existissem aqueles que, não por natureza biológica, mas por outros fatores ligados às suas vivências ou experiências pessoais, preferiam se comportar conforme suas vontades: às vezes o macho com comportamento feminino e a fêmea com o masculino.

É bem verdade que a escola nunca deu vez ao comum de dois gêneros. Nem mesmo atualmente. A não ser nas aulas de Gramática da língua quando dizia que alguns substantivos não tinham sexo. Aí eu ficava fazendo a comparação da cobra, do jacaré e da zebra com as pessoas que eu já tinha observado que, eram machos e queriam ser fêmeas ou vice-versa.

Pasmem os jovens que se admiram demais com a realidade de hoje! Mas, no século passado, vez por outra encontrávamos mulheres de camisas de mangas longas, chapéu, calça e botina com a simples finalidade de adquirirem um aspecto mais masculino. Homens que hoje são torturadamente chamados de “afeminados” também tinham suas preferências específicas de uso da linguagem oral muito própria deles, realizavam atividades que foram determinadas convencionalmente para mulheres, como cozinhar, lavar roupas e pratos, varrer a casa. Qualquer homem que demonstrasse atitudes como essas punha sua masculinidade em jogo.

O fato é que a cultura, convencionalmente destinou e separou as atividades masculinas das femininas. Mulheres somente servem para isso, homens para aquilo. Mulher que dirigia carro, por exemplo? Com certeza tinha aspecto de macho! Pois bem, muitas outras coisas poderiam ser observadas, mas, eu quero encurtar a interação. Só sei que para aqueles que resolviam “quebrar o tabu”, apesar dos olhares atravessados que recebiam, eu nunca ouvi nada igual ao que ouço hoje com relação às lésbicas e aos gays, nem nunca li o que escrevem, hoje em rede social. E nunca ouvi ninguém usar tanto o nome desses grupos em uma campanha eleitoral.

Ora, há até quem afirme que existem livros que ensinam as crianças a escolherem, com ampla liberdade, a opção de ser gay, lésbica ou de se entregar com liberdade a um pedófilo, como também instruem sobre sexo antes da hora. Eu ainda não tive a oportunidade de tocar no material que ensina isso, mas, parte dele é demonstrado na TV e Internet sem nenhuma proibição. Devia ser proibido, já que é tão maléfico. Mas, não. Candidatos usam descaradamente para fazerem suas campanhas. Nunca vi a favor, porque todos sabem que esse tipo de material, se existisse de verdade na escola, não seria apropriado porque vai de encontro a diversas forças que fazem parte da natureza especifica do ser humano.

Sem contar que hoje as crianças têm acesso a quase tudo. É possível observar que mesmo os pais que demonstram tamanha e profunda “fobia” desenfreada por esses assuntos na escola colocam nas mãos das suas crianças, ainda muito cedo, um celular com internet e não percebem que este mecanismo abre um mundo infinito de informações, através de tudo: imagens, vídeos e filmes, revistas e livros completos, desenhos animados, charges, cartoons, banners, enfim, uma diversidade de materiais que podem ser consultados sem restrição abordando o sexo como atividade biológica humana e animal de diversas formas. Das mais corretas às mais distorcidas possíveis.

Chega a ser cansativo observar o medo das pessoas de terem filhos transformados em demônios porque os professores ensinaram isso na escola usando um livro que foi destinado pelo MEC. Muitos argumentam que a criança tem que saber sobre sexo na idade correta porque não pode aprender antes. E seguem-se uma lista de argumentos que finalizam em uma única linha de pensamento: a religiosa. Então, a criança não pode perder a inocência. Mas, não se observa, quase nada, os que argumentam contra o uso do celular pelas crianças na mesma idade. Algumas delas usam na escola, com o professor explicando a matéria. E a criança vendo vídeo de outros assuntos que nada têm a ver com os abordados na aula. 

Ninguém sequer olha, observa ou considera os índices absurdamente elevados de crianças que são abusadas pelos pedófilos e que se revelam inocentes, por isso aceitam. Às vezes, até as mães, por diversas circunstâncias também ligadas à falta de informação que a limitada EDUCAÇÃO proporciona, demonstram inocência e veem tais ocorrências em casa e não denunciam. Enfim, a inocência, nem sempre é algo positivo quando se trata de exploração e violência sexual. Pior ainda, nesses índices estão histórias que ocorrem, em sua grande maioria, dentro do próprio ambiente familiar e em outros nos quais há um certo grau de confiabilidade entre violentador e violentado, como as igrejas, escolas, a vizinhança.   

Cientificamente não se pode ter certeza dos motivos que levam uma pessoa a ser gay ou lésbica. Os absurdos da pedofilia têm sido amplamente discutidos e tem-se concluído que é algo dado como doentio por alguns especialistas da psicologia e psiquiatria. Mas, em nenhum estudo há certeza de que esses perfis do campo da sexualidade possam ser ensinados e aprendidos. Talvez, possam ser influências para quem já tem suas preferências e não tem coragem de externar, o que é diferente de aprender a ser. Só sei que eu sou o que sou, heterossexual, e jamais ninguém mudaria isso em mim. Nem mesmo os professores e os livros de ciências com os quais eu aprendi muitas coisas.  

Mas, eu não seria o que sou, talvez nem existisse mais se eu não tivesse lido sobre o tema, estudado e descoberto muitos conhecimentos que as pessoas transformam em monstros de um mundo “alienígena” e acham que saber daquilo é prejudicial à vida, quando às vezes é a forma mais adequada de você evitar os problemas que o NÃO SABER causa. Imagine uma criança que não sabe que é estranho o adulto tocar em suas partes íntimas, mas, que se depara com isso! Às vezes é o pastor da igreja do seu pai e de sua mãe, o padre da igreja matriz, o vizinho, o namorado da irmã, o homem que a sua mãe casou ou resolveu morar e que não é o ser genitor, ou mesmo é o seu próprio pai. Ressalvo que falo sempre da parte masculina porque é a situação majoritariamente comum, mas, não se descarta a possibilidade de essas atitudes serem tomadas por mulheres.

Só sei que a campanha eleitoral vai afunilando e minhas observações vão ficando cada vez mais voltadas para o caráter específico dos absurdos que são abordados em defesa de cada candidato. E é possível constatar que há tantas distorções sendo postas a fim de desviar o olhar do povo daquilo que se deveria analisar, além das coisas que não são importantes no discurso político.

Como profissional da educação, acredito que este fenômeno é um dos que pode mudar o aspecto "desastroso" que tem tomado conta da nação brasileira em todos os sentidos. A EDUCAÇÃO é mola mestra de uma sociedade pelo fato de conduzir a vida de uma pessoa para diversas dimensões. Eu mesma me ponho como exemplo de transformação individual e social através da escola, da leitura e da formação educacional. Portanto, lidei de perto com o caso.

Tenho certeza que um discurso político mais adequado a este fenômeno não se limita a coisas tão específicas e que devem ser temas a tratar, dependendo de cada realidade escolar, em discussões participativas com a família, nas quais se decidam os rumos do currículo escolar. Algo que já é orientado pelas diretrizes da educação básica e que quase nenhum pai sabe porque geralmente a ele não interessa saber disso. O currículo, os saberes, as decisões quase sempre são tomadas pelos profissionais da escola porque os pais não aparecem para ajudar nelas. Mas, quer votar num presidente da república que dê conta do que é a comunidade escolar, da qual é ele (o pai ou mãe) quem faz parte e é responsável pelas decisões de um processo educativo destinado aos seus filhos. 

Com certeza, o discurso que se procura vai muito além da fé, das informações que se fazem no senso comum, dos meus e dos seus conceitos e preconceitos. É um discurso de PLURALIDADE superior também à ambição pelo PODER que jorra, de forma grotesca, da língua dos que usam certos assuntos para ganhar votos. Esse discurso nega a real finalidade da educação escolar que deve ser promovida com os valores pagos de impostos pelo contribuinte e para ascender qualquer que seja o usuário do serviço público ou privado que lhe é de direito.



Por Mônica Freitas

domingo, 9 de setembro de 2018

[CRÔNICA DO DIA] SALA DE PROFESSORES


Foto ilustrativa 

  
Desde a fachada, antes de entrar na porta do muro da escola, aquele sentimento arredio toma conta do meu ser.
- Professora! Por que você veio dá aula? Perguntam vários alunos gritando, todos falando ironicamente.
Não tendo respostas, ando até o portão. Uma aluna vem e dá um beijinho na minha face e sorri. Refaço as forças. Ultrapasso o portão de entrada, vou à sala e me junto aos colegas. O assunto? Quase o mesmo.
- A minha turma está quase metade sem fazer nada. As crianças, mesmo nessa idade, com dez anos, sete anos, oito anos, nada querem? Diz uma das colegas professoras, com semblante angustiado, olhos cansados, expressão facial triste e a angústia saltitando a face.
- Eu ontem, para dá aula tive que tirar aluno tal da sala. Não dava, ele subiu em cadeiras, me respondeu mal, brigou com os colegas. Ave Maria! Não sei mais o que fazer. Acrescenta a outra colega. 
Em pouco tempo, mais de quatro professoras expressam exemplos negativos de sua sala de aula. Contam histórias nas quais, nenhuma delas inclui aquele velho, antigo mesmo, exemplo de aluno tal que está com uma boa nota, que é inteligente e sabe tudo. Este animal está em extinção há muito tempo. E eu observo isso com uma vontade imensa de mudar.
- Mas sozinha? Como? Eu pensei.
- Ontem, na reunião de planejamento falamos sobre isso. Eu apresentei à gestão e coordenação pedagógica que os alunos estão assim, e está difícil. Mas, como não há o que fazer sem a presença dos pais. Infelizmente, os pais desses alunos não vêm à escola, nem sabem o que filho faz aqui. Comenta a outra colega.
- É isso. Mas, eu estou cumprindo meu dever. Planejo e executo minha aula. Estou cumprindo meu horário e recebendo meu salário. Finaliza mais uma das colegas que vem entrando na sala de professores.
- Ôpa! Bom dia! Entra a diretora da escola na sala.
- Bom dia! Respondemos em coro.
- Vocês já viram o aviso no mural? Amanhã tem reunião.
- Eu vi! Alguém responde desanimado.
Faz tempo que eu olho para essa história tão repetitiva e tão sem resultado.
- Será por isso que é repetitiva? Eu reflito ali na minha mente.
Também faz tempo que me desiludi com as tais "reuniões pedagógicas". É um momento de muita conversa e de pouca ação. Não gosto. É um momento de denúncia entre professores e não de montagem de estratégia. Não é lugar para mim. Às vezes eu somente escuto e nada falo. Se eu falar corro o risco de ser linchada. Calo-me... Para sempre.
Rolam muitos assuntos de alunos indisciplinados, de pais que não educam, de filhos que não escutam, não obedecem aos pais e, NÃO ESTUDAM. Ou melhor, não aprendem.
E eu ali pensando:
- Ora! Aprender exige disciplina. Mas, eu conversei um dia desses com uma mãe de aluno, que eu encontrei por acaso na rua e falei do Tiago para ela após a pergunta:
- Como está Mateus na escola? Ele vai passar de ano?
A resposta foi seca, curta e grossa:
- Mateus? Deixe ver se lembro o último dia que ele assistiu aula!
- Não, ele vai para a escola todo dia.
- Ah! Já sei, ele deixa o caderno e sai.
- E tem quantas faltas?
- Vixe! Muitas. Porque sempre quando faço a chamada não está na sala. Tem saído sem volta. É preciso conversar com ele, senão vai ficar reprovado.
- Vou conversar, porque não vai dar certo. Meu benefício vai ser bloqueado se ele tiver muitas faltas.
- E vai ficar reprovado né? Isso é o pior. Quem não estuda, não aprende. Converse com ele para melhorar em sala. Eu já tentei fazer permanecer na aula, mas, ele sai. E quando observo da sala, ele está na quadra, às vezes, sozinho. Já falei com ele, mas é muito indisciplinado, sai batendo cadeira e jogando o próprio caderno.
-  A mãe respira, revela aquele ar de envergonhada e diz:
- Não sei mais o que fazer. Ele não me escuta, e tem esse mesmo comportamento em casa. Faço de tudo: compro as roupas que gosta, vivo comprando celular pra ele, porque ele tem o dinheiro do Bolsa-Escola e exige que eu entregue todo, senão quebra tudo em casa.
Fui taxativa:
- Se quiser saber o comportamento dele de forma mais clara, vá lá. E se quiser, venha a uma reunião pedagógica para resolvermos com a equipe pedagógica o que fazer. E sai.
Estava esperando sua presença na reunião. Ela não foi. Eu fiquei o tempo todo lembrando que a conversa foi improdutiva, porque tinha certeza que a mesma havia sido convidada, mas, não deu a mínima.
Levanto um pouco a voz e menciono o fato. Alguém me responde:
- Eu mandei o convite por ele, mas, como você vê, ela não apareceu. Responde um dos coordenadores.
Questionei:
- Por ele? Nunca iria ser entregue.
No outro dia eu volto à sala dos professores. Novidades? Nenhuma. Somente a de que mais um aluno se corrompeu e foi expulso.
- Mas ele era tão comportado! O que houve?
Escuto e fico ali pensando o que fazer quando entrar na sala de aula. Vou me preparando para escutar:
- Você vai da aula até que horas?
- Vai ser prova?
- Você vai soltar nós?
- Vamos fazer a atividade e ser liberados?
- Isso vale pontos?
- Mamãe disse que eu tinha que sair mais cedo porque ela vai...
E os gritos de felicidade ao dizer que chegou o fim da aula.
Pergunto-me:
- Será que estamos todos presos?
A sirene toca, a sala dos professores fica ali guardando a minha indignação, silenciosa. Ela é minha confidente mais fiel. Mas, também já sinalizou que não gosta de repetição.
 Por Mônica Freitas 

sábado, 8 de setembro de 2018

[CRÔNICA DO DIA] O DEUS, O CRISTO DA BÍBLIA É INSANO?!

Imagem ilustrativa 


Acho que eu tinha apenas uns cincos anos de idade quando recebi a primeira orientação sobre Deus, sim, o mesmo que é Pai do Cristo que morreu crucificado. A mediação foi feita pela minha avó, que também foi responsável por tudo que aprendi de valores humanos. Ela era uma pessoa sensível a todos os episódios do cotidiano que envolvessem a perversidade, a crueldade, a falta de solidariedade; e tinha medo de tudo quanto causasse dor, mágoa, ódio no outro.
Dizia que tudo que era injusto desagradava a Deus. Lembro-me dos tantos medos, tabus e superstições que aprendi com ela. Um deles era de o mundo acabar porque a Terra estava muito cheia de pecados dos seres humanos. Ela dizia que isso ocorreria no ano 2000. E eu ficava pensando que se eu não pecasse muito e fizesse o bem ao mundo provavelmente eu não morreria tão jovem.
Cheguei a perder o sono a noite com medo disso e também de almas penadas, pois, ela também narrava que as pessoas ruins não alcançavam o sossego depois da morte e os espíritos ficavam vagando entre os vivos para assombrá-los. Muitas noites fui balançada em uma rede, por ela, para que dormisse, quando alguém conhecido, que eu via como uma pessoa ruim morria. São episódios da minha infância e adolescência que eu nunca esqueci.
Nesse contexto, Deus era para mim o Poder responsável por qualquer milagre e era um ser fantástico, do bem, aquele capaz de chegar e transformar tudo quanto fosse sombrio em claridade eterna. E muito cedo busquei entender sobre a sua divindade lendo os evangelhos, aos quais tive o primeiro contato em um desses livrinhos de Novo Testamento distribuído pelos Gideões.
Li e reli o livrinho muitas vezes, sem pretensões de marcar o nome de uma Religião, e aprendi coisas que até hoje permanecem em mim enquanto pessoa que crer em Cristo. Sim, porque aprendi muito sobre este que antes de ser definido como um ser transcendental que rege o universo, é um ser histórico. Ele dividiu a História e a Geografia Religiosa do mundo, transformando-se em marca para a Igreja, grande parte dos povos orientais e ocidentais e os governos.
Não há como falar desse aprendizado sem citar o entendimento de que, para ser um cristão dado à fé, é preciso ver o fundador da tese cristã como alguém que direciona seu discurso a todos os povos da Terra. No livro onde estão escritos os ensinamentos que doutrinam o cristianismo, a Bíblia, as expressões que fazem-me interpretar desta forma são claras, como esta que se lê na carta escrita por Tiago, apóstolo cristão: “Mas se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo por isso condenados pela lei como transgressores” (Tiago 2:9).
Em síntese, os textos bíblicos deixam claro que Deus não privilegia, não tem protegidos, não discrimina ninguém, condena qualquer um, mesmo aquele que se mostra o mais fiel de todos, mas, está com o coração cheio de ira e este sentimento um dia é externado através da voz ou de atos. Esses fatos são muito comuns envolvendo sacerdotes ou membros de igrejas cristãs ou mesmo pessoas que tentam ter um discurso dotado de pureza, mas, uma ou outra atitude cometida em seus relacionamentos na sociedade demonstram sua fragilidade como ser humano. E é algo muito próprio da humanidade, embora os julgamentos, tanto dentro da igreja como externamente, às vezes cheguem aos extremos.
Trazendo para um recorte mais real, temos hoje no Brasil situações que muito se inserem neste contexto e esses episódios não se limitam a avaliações que se vinculam apenas ao cotidiano individual ou espiritual das pessoas. Outros sentimentos voltados para os valores do poderio econômico-financeiro estão sendo misturados à fé, de tal forma, que na formação de quadros políticos-legislativos temos a “bancada da fé”.
Mas, o inusitado nisso tudo não é ter uma bancada que diz resguardar os valores divinos. A mim, enquanto observadora da história política do Brasil, impressionam os fatos nos quais se envolvem os membros do grupo: alguns presos por corrupção; outros envolvidos em investigações de fatos semelhantes e outros aliados às bancadas que de forma evidente estão no Congresso Nacional apenas para garantir seus privilégios econômicos e sociais. Somente, como é a bancada ruralista.
É claro que nesse meio não esqueço de mencionar as outras bancadas que vão surgindo para confrontos contra esses que buscam manter-se no seu lugar de destaque e de poder desde que o país foi fundado, como os grupos que lideram os movimentos sociais, chamados hoje de “esquerdopatas”. O que fica muito claro no cenário é a polarização de interesses. Como se cada um tivesse que garantir o seu. E a quem não sobra nada “que se lasque!”.
O cenário é de total desobediência ao Deus que não faz acepção de pessoas. Mas, é claro que cada um dos grupos vai se aproveitando do que lhe convém naquilo que chamam de Palavra de Deus para ganhar a notoriedade do povo, e obviamente, em ano de eleição como é este de 2018, alavancar na preferência popular. Alguns grupos percebem o perfil da sociedade e já sabem o que fazer. Vale então os vários discursos pro isso pro aquilo: família tradicional; ataque a gays, lésbicas, bandidos; o uso do nome de Deus e até das frases bíblicas descontextualizadas, sem refletir sobre: em qual situação cabe aquela frase, já que todo o ensinamento bíblico se direciona a fatos, sentimentos e contextos abordados pelo próprio Cristo.
Há até candidatos que se auto-intitulam que vieram em nome de Deus! Um discurso que se volta para a ideia de que somos um país cristão. E somos, no discurso. Se formos pesquisar entre o povo, uma maioria estarrecedora se declara cristão e em seguida já faz o julgamento de quem não crer dizendo que a pessoa irá para o inferno, em vida. Acredito que o julgador não leu esta parte: “E se alguém ouvir as minhas palavras, e não crer, eu não o julgo; porque eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo” (Lamentações, 4:12). E nem essa colocação de Jesus: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16: 15).
A falta de leitura e de interpretação bíblica tem levado aos membros da sociedade e em especial das igrejas, para não dizer o eleitor, a se comportar de maneira tão contraditória aos evangelhos como os tais religiosos da política. Os discursos que incitam o ódio são fáceis de encontrar nas redes sociais, nos jornais, nos comícios e manifestações partidárias. Às vezes, até os candidatos que dizem falar “em nome de Deus” estimulam essas atitudes e esquecem que há milhões de pessoas compondo o auditório do seu discurso e que nesse meio estão os loucos e os sensatos. As tragédias começam a se formar nesse campo volumoso, diverso e real.
Olhando o cenário fico lembrando da época em que eu era criança e também estudante. O meu primeiro professor de História, o saudoso Gerson Lopes, quando falava do contexto da Idade Média, deixava bem claro que a Igreja, a Religião, envolvida na política, acaba que, por ambições maiores do que a “salvação do povo”, tomando o rumo da insanidade, da violência e da crueldade. E eu, como aluna ainda em processo de formação leitora, não conseguida entender essa relação da igreja com a política, tão distante de Deus, porque eu tinha aquela visão de um divino ser criada em minha mente pela minha avó: ele era justo, não privilegia ninguém seja pelo que for e nem condena inocentes.
Se a história registrada nos livros e as pesquisas realizadas sobre a inquisição romana ainda forem válidas, diante das atrocidades históricas que também são colocadas nesta campanha, todos nós, inclusive os da “bancada da fé”, sabem o significado do poderio religioso medieval. Aí eu prefiro seguir tudo que aprendi com a minha mãe-avó e o que li nos evangelhos: Deus não é tão insano como pregam os religiosos-políticos e os políticos-religiosos para criar um cenário desses.
Eu volto às minhas concepções infantis do que realmente pode ser visto como divino e as cumpro, incluindo nisto a análise dos candidatos para votar. Incluo também, até a possibilidade de existirem os espíritos malignos [risos], embora com uma visão menos fantasiosa do que a da minha avó, que me fazia ter um medo tremendo dos mortos, que só passou quando tive a certeza que entre a morte e a vida há um capítulo da narrativa que ninguém pode contar.  

Por Mônica Freitas





quarta-feira, 5 de setembro de 2018

[CRÔNICA DO DIA] O LIVRO DE TERESA; E O LIVRO DE SOFIA

Livros lançados por Teresa Machado e Anne Sofia
(Foto: Mônica Freitas) 


Eu já conhecia Teresa porque em cidade pequena isso não é algo difícil. Mas, a aproximação mais estreita entre nós foi fruto da escola em que trabalhamos por um tempo juntas e da igreja que hoje somente ela frequenta e é membro. Em delongas sobre seu caráter, é uma pessoa ímpar: na serenidade, na empatia, na suavidade de suas expressões personalistas.
Sofia é alguém de pouco tempo. Mas, ali, naquele rostinho simples e naquela mente inteligível se vê toda a perspectiva de uma pessoa que o mundo de hoje e do futuro precisam. Ela representa o amor e a sensibilidade necessários ao mundo.
Pois bem! O que essas duas pessoinhas agradáveis são? O registro de mais uma peça importante no quebra-cabeça da nossa memória literária, a partir de seus livros lançados ao público apodiense neste dia 03 de setembro de 2018.

Fragmento do livro de Teresa Machado
(Foto: Mônica Freitas) 


Uma das reflexões que faço e defendo é que o mundo de hoje precisa de poesia. Claro que essa minha opinião se liga ao que sou, às minhas preferências de leitura e de escrita. Gosto de ler e escrever poesias. Fascino-me por isto, apesar do tempo. E é esse elemento que acho essencial ao mundo que compõe todo o corpo do livro de Teresa Machado. A mais nova poetisa de Apodi.

Teresa Machado (autora do livro) e Mônica Freitas
(Foto: Diego Souza)

Eu não sou uma grande poetisa. Entretanto, me encanto com o teor da sua poesia. É simples. Talvez, por isso, o título Simplificando a Poesia, dado ao seu livro. E é encantadora por trazer uma musicalidade especial adicionada a temas livres, mas nobres; a sentimentos valiosos como a fé, o amor e o respeito a Deus, à vida e ao meio em que vivemos.
As Sextilhas e Décimas publicadas nesta obra conferem à poetisa Teresa um conhecimento enciclopédico e de mundo para realmente ser interpretado em poesia. Somos felizes por ainda termos compositores de textos artísticos tão reflexivos. E eu, particularmente sou mais feliz, por ter dividido com ela um dos meus motes poéticos: “Quem suja as águas da vida, comete um crime horroroso”, a mim solicitados em uma das interações grupais. Agradeço-a por fazer parte da sua obra em uma atividade tão nobre quanto a poesia.




                                               Fragmento do livro de Anne Sofia. 
                                                                          (Foto: Mônica Freitas) 


E não poderia ser diferente o meu sentimento de gratidão à Sofia, pela simplicidade aconchegante em que é intitulada a sua obra, com uma frase que saltita bocas e mentes do “Apodi dos Tapuias Paiacus”. Sofia quis tornar terno, suave, vivo e infantilizado uma história que por trás de sua cortina carrega fatídicos episódios de marca vermelha escura: o sangue. Mas, que também tem a resistência, a sobrevivência e a luta atual de Lúcia Tavares e seus condescendentes como bandeiras pelo reconhecimento ao direito de se veem e serem vistos como origem singular do povo de nossa terra.
Sofia traz, na sua palavra marcada para sempre na mente e na memória de todos, o desejo de um povo que ainda VIVE.
Sem sombra de dúvidas, Apodi recebeu em seu solo e nos seus acervos literários dois grandes instrumentos para a construção de saberes e de sabedoria. Que as aproveitemos!

Por Mônica Freitas



domingo, 2 de setembro de 2018

[CRÔNICA DO DIA] Gafes Faceanas




De burro à personalidade mais próxima de Deus é o que não falta nos murais das Redes Sociais mais usadas atualmente. Recuso-me a ir mais profundamente aos detalhes de nomes, rostos, identificações mais precisas. Os comentários que denigrem e os que santificam são oriundos dos mais diversos meios sociais. Não dispensam os mais escolarizados e nem somente incluem os que a maioria chama de “mal-educados”, porque não estudaram um curso superior.

No Facebook, há uma derrocada em avalanche das mais infelizes gafes. Algumas chegam a se aproximar da “#Hashtag”. Mas, o que tem me incomodado enquanto usuária deste ambiente não é a sua existência enquanto marcador de um debate, discurso ou conversa necessária, às vezes. É a geração de controvérsias e desentendimentos que levam, quase sempre, a compreendermos que ali está sendo criada, inventada uma oportunidade de denegrir ou enaltecer as imagens das pessoas socialmente ou politicamente.

Em tempos de campanha eleitoral mais ainda. O proveito tirado das também avassaladoras Fake News se associa aos que têm um comportamento indelicado e facilitam cada vez mais a proliferação da infâmia, do desajuste identitário dos candidatos e muitas vezes até os tornam desconhecíveis e muito diferentes do que são na realidade.

Os tempos são difíceis quando se trata de uso das redes, em especial do Facebook, que é aberta ao mundo, embora haja restrições de privacidade. É difícil não encontrar alguém que a use e não tenha pelo menos uma experiência de aborrecimento para narrar, seja de uma postagem ou comentário inapropriado, invasivo que lhe incomoda.

Na maioria das vezes, usuários acalentados e embebidos de paixões que são comuns aos seres humanos – como enumera a filosofia ainda muito válida de Aristóteles – vão ao ambiente de interação sem refletir que nem sempre o autor de uma postagem quer DEBATER, ás vezes quer só se colocar, informar, se posicionar sobre um tema. E a sua percepção não vai mudar por causa de um comentário “chulo”. Sim, porque também é visível que há comentários que são expostos só mesmo para contrariar, pois, os argumentos são frágeis, sem sustentação factual perceptível e sem base sistemática, muito menos científica.

Pior ainda é ver que muitos nem refletem sobre os problemas que causam às vezes, à imagem do outro ou à sua própria imagem e que há casos que podem render problemas muito mais complexos, envolver até processos na justiça.

Os assuntos, como já disse, são diversos. Mas a política eleitoral tem se destacado nos últimos dias. E o #Deus nos acuda das Gafes Faceanas, parece ser a Hashtag mais apropriada.

Por Mônica Freitas