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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

03 DE NOVEMBRO: 195 ANOS DO MASSACRE DE 70 ÍNDIOS EM PORTALEGRE

 


Final do século XVIII anos iniciais do século XIX, tempo conturbado na Vila de Portalegre, sede da Ribeira do Apodi, onde índios Tapuia Paiacu foram aldeados, desde 1761. Neste mesmo momento, dois movimentos importantes que estavam acontecendo e que estimulavam conflitos na região: a Revolução Republicana de 1817 e a Confederação do Equador. Por motivos de conflitos, alguns dos moradores da vila já haviam sido presos. Um desses casos foi o do Coronel José Francisco Vieira de Barros. Quem cita o cenário é José Sávio Lopes (2017) em seu romance histórico Dezessete. Ele se refere à época de forma descontraída que essa revolução também ficou conhecida como: Revolução Pernambucana ou Revolta dos Padres.

Tal Revolução teve como principal fim criar, no Norte do Brasil, uma república livre do domínio Português, tendo o dia 06 de março de 1817, ocorrido no Forte das Cinco Pontas, “quando o Leão Coroado reagiu à voz de prisão e matou a golpes de espada o seu comandante, Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro” (LOPES, 2017, p. 29). Tal revolução foi liderada por André de Albuquerque Maranhão e apoiada por alguns representantes da igreja e das milícias da Ribeira do Apodi, em especial das vilas de Portalegre, Patu, Apodi e Martins.

Como se tratava de uma revolução contra as execuções portuguesas e no momento os índios estavam insatisfeitos porque a Câmara de Vereadores lhes atribuiu terras improdutivas, situadas nas grutas e que não serviam para o cultivo da lavoura, certamente foram influenciados por esse momento de tensão. Segundo Morais (2005), naquele momento a população de índios era bem maior do que a de brancos na Vila de Portalegre. E quem traz informações sobre esse detalhe é Macedo (2002) com informações sobre os números de brancos, pardos, pretos, mulatos e índios daquele lugar no ano de 1805. Ao todo, no início de do século XIX 1017 moradores na Vila de Portalegre. Desse total, 262 eram brancos; 100 pretos, 255 mulatos e 400 índios.

Nonato Mota (s/d) é quem relata em seu manuscrito, a volta do Coronel Vieira de Barros. Segundo o texto, este chegou a Portalegre logo que saiu da prisão e encontrou a vila em estado anarquista. Os vereadores tinham tomado as terras improdutivas dos índios e tinham queimado suas casas, feitas de palha, por isso chamadas de “palhoças”. Além de ficarem sem terras e casas, alguns indígenas foram presos. Vieira de Barros, ao ver a situação, pensando em apaziguar, aforou alguns terrenos aos índios mais exaltados, porém nada disso adiantou.

As influências recebidas das revoluções já citadas e outros conflitos envolvendo índios e colonizadores em outros lugares do Brasil prevaleciam. Segundo Trindade (2010) foi justamente no sertão do Nordeste atual se iniciaram manifestações contra algumas das determinações do imperador D. Pedro I. Pernambuco foi cenário do primeiro movimento liderado por Frei Caneca em protesto ao autoritarismo do imperador, que havia fechado a Assembleia Constituinte, impondo outras leis que lhes davam poderes excepcionais. Os povos envolvidos queriam a independência e um governo republicano por parte dos liberais, mas, os grandes proprietários estavam insatisfeitos com os altos impostos.

Enfim, não há como negar o contexto de revolução que influenciava também as relações entre os índios aldeados e os colonos. E este fator foi primordial para que ocorresse um dos massacres mais sangrentos da história dos conflitos envolvendo portugueses e indígenas do Oeste Potiguar no tempo da colonização, sendo o cenário do episódio a Serra de Portalegre. Tudo aconteceu depois de um ataque indígena aos moradores da Vila de Portalegre. Segundo Mota (1920), os índios invadiram a vila sob a liderança de Luiza Cantofa e João do Pêga. Travaram luta com os moradores e o delegado de polícia, o Capitão Bento Ignacio de Bessa foi morto. O Coronel Vieira de Barros se suicidou e os índios, em sua grande maioria foram presos e algemados na cadeia da vila.

 

Passaram alguns dias, mas, já sabendo que seriam levados em escolta à cidade de Natal para lá ficarem definitivamente presos. Nonato Mota (s/d) ao relatar os fatos que ocorreram, diz que no dia 03 de novembro de 1825, “ao chegarem ao pé da serra, entre o sítio Viçosa e a Vila de Port’ Alegre, levantaram uma grande cruz, e depois de rezarem um terço, foram os presos passados pelas armas [...]” (MOTA, s/d, p. 65). Dezenas de índios foram assassinados. As notas históricas falam de 70 índios, porém, é possível inferir que pela sua dimensão e por falta de documentos que comprovem de fato as perdas da parte dos índios, esse quantitativo pode ter sido bem maior. Após o fato, os relatos indicam que os principais autores dessa chacina nada pagaram pelo crime. Foram eles: Antônio Bezerra, Florêncio de Albuquerque, Antônio Caboba e Joaquim Cavalcante. Os índios sobreviventes do confronto foram retirados com suas famílias para os centros dos Cariris no Estado do Ceará, não mais tendo voltado ao sertão do Rio Grande do Norte (MOTA, s/d).

Luiza Cantofa, a velha índia que vivia com sua neta Jandi na vila conseguiu escapar do massacre e se esconder na Serra por alguns dias. No entanto, moradores deram conta de seu esconderijo, o que fez com que seus algozes a encontrassem no topo da serra de Portalegre e ali mesmo ela fosse morta na frente da neta, com uma punhalada no peito. Jandi nunca mais foi vista, João do Pêga também fugiu e não mais foi visto. E hoje, resta apenas a memória histórica fixada na cidade de Portalegre: na Casa de Câmara e Cadeira (Museu Histórico), no terminal turístico da Bica e na cova de Cantofa, no alto da Serra.

 

Por Mônica Freitas

Texto com base na Dissertação de Mestrado de sua autoria.

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