PROIBIDO COMENTÁRIOS ANÔNIMOS

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segunda-feira, 30 de setembro de 2019

[MINHA CRÔNICA DE HOJE] QUANDO ENTRAR SETEMBRO...



Durante todo o mês de agosto do ano de 2019 esteve fixa na minha mente esta sentença: QUANDO ENTRAR SETEMBRO. A fixação na memória me lembrava o trecho de uma composição do Beto Guedes, artista brasileiro que gravou essa letra na música intitulada “Sol de Primavera”. Uma letra arranjada em melodia que exalta a chegada das flores, a primavera, como o tempo certo para perdoar, reinventar sonhos, refazer caminhos, só porque os campos começam a florescer e recriarem-se em cores e perfumes.

Eu lembrava toda essa transformação, ao mesmo tempo em que pensava que foi em setembro do ano de 2018 que perdi a mais mimosa flor da vida: aquela que me deu de graça a flor mais perfeita de mim, a vida. Setembro de 2018 começou e as flores, mesmo no Sertão de clima semiárido chegaram. Elas enfeitaram os ipês raros da nossa terra, coloriram as ervas da caatinga e deram novo tingimento ao mato rasteiro que até enverdeceu com a nova estação.

Como admiradora das flores, fã número um da magia, do perfume e do tom que elas conseguem dar ao mundo, a entrada do mês que também inicia a sequência dos meses finais do ano, chamados de final BÊ-RÊ-O-BRO/ BRO em 2018 para mim foi igualmente voltada para a alegria das flores. Pena que durou pouco porque entre os dias 09 e 10 deste período, vivi junto com meus irmãos e toda a família as dores diárias da enfermidade e morte da nossa mãe.

Esse fato deu um novo sentido, para mim, à entrada e ao fim de setembro, e talvez, para sempre, aos meses que findam com BRO. É doloroso ouvir Sol de Primavera sem lembrar dessa dor. Sem pensar que aquela flor ainda tão vívida, tão ávida, tão colorida de sonhos se foi justamente no mês das flores. É infinitamente inesquecível a sua imagem, sua voz, o seu cuidado. É também infinitamente inesquecível a memória de tudo que foi, que ainda é, e da falta que faz.

Percorremos um ano de sua partida, mas, vez por outra, ainda vivemos a ilusão de que a sua vida está aqui em setembro e todos os outros meses que se seguem. Agora mesmo, acordamos do sonho. Faz um ano que essa vida está apenas no nosso amor, no nosso coração, na nossa memória. Mesmo assim, continuamos te amando.
E quando entrar setembro, em todos os anos, o sentimento de SAUDADE desta flor que não chegou, foi-se, vai sempre aflorar em nós.

Mônica Freitas

terça-feira, 27 de agosto de 2019

A VULGARIDADE É LIXA ÁSPERA



A vulgaridade é lixa áspera em que me ralo toda. E a vulgaridade está comandando o momento. Tento entender como queimamos as pontes que nos ligavam a comportamentos mais elegantes.

Somos seres de rituais. Do café da manhã ao casamento, tudo é ritualizado. E cada rito é um combo que vem com seus próprios trajes e linguagem. Não participamos dos rituais com as mesmas roupas com que enfrentamos o batente. Nem com o mesmo espírito. Como um instrumento, o ritual exige embocadura.

Os juízes do Supremo usam togas, os padres usam batina, os generais usam fardas. Os trajes dizem do cargo. E, quando no cargo, quem os veste fala linguagens condizentes.

Mas o presidente fala à nação envolto na capa do barbeiro e com voz displicente diz inverdades ofensivas, enquanto o profissional faz seu serviço de tesoura cuidando para não encobrir o cliente. Não se trata de acaso nem descuido. A cena bem concebida faz parte da estratégia “gente como a gente”.

Produto dos tempos modernos, essa estratégia destina-se a falar diretamente com o eleitor que gosta de se ver representado ipsis litteris, quase como em uma caricatura, e busca entre os candidatos aquele que replica não só seus pensamentos como suas próprias atitudes, que diz frases de botequim como ditas diante do balcão. É o eleitor que ainda não assimilou o conceito de representação simbólica. E, ao que parece, há muitos.

Estratégia idêntica comanda frases como: “Os caras vão morrer na rua igual baratas, pô. E tem que ser assim”, em que o desleixe da frase veste de cores populares a ferocidade do conteúdo, e angaria seguidores a favor da “retaguarda jurídica”, porta aberta para os policiais matarem livremente.

É o mesmo princípio da propaganda que, em frases destinadas ao grande público, comete erros propositais de português para facilitar a identificação e garantir a aquisição do produto.

As redes sociais, veículo favorito do clã presidencial, aninham alto grau de estratégia e de vulgaridade. A estratégia mais frequentada consiste em mostrar-se melhor do que se é na realidade. Chama-se a isso “construir a imagem”. Arriscada arquitetura que põe na fachada somente o belo, e deixa o feio escondido, corroendo as estruturas –bom exemplo disso está na novela das nove, com a vilã construindo imagem impecável enquanto peca nas coxias. “Construir a imagem” tornou-se lícito, não sendo considerado imoral ou sequer expediente enganoso.

A vulgaridade vai por conta da exibição. No passado remoto em que fui educada, exibir-se ou gabar-se era deselegante. Hoje é dever de cada um, atalho certo no caminho que conduz aos tapetes vermelhos e aos milhões de seguidores. Fomos engolidos pela multidão, só ganha destaque e dinheiro aquele que consegue emergir. E todos os meios para isso são considerados válidos, legítima defesa contra a escuridão do anonimato. Mais brilha quem mais se exibe.

Tenho me perguntado para que porta-voz oficial se quem porta a voz do presidente é ele mesmo, galopando desenfreado no dorso do Twitter ou em situações nada oficiais. O palavreado chulo, grosseiro, que não faz questão de disfarçar o ódio, brota inesperado e nos cobre de vergonha.

As pontes para a elegância foram queimadas há tempos em favor do mercado, e progressivamente cada um queimou as suas. Parafraseando o poeta, a elegância é só um quadro na parede, mas como dói a sua ausência.


Marina Colasanti

sábado, 20 de julho de 2019

OS VALORES IMPLÍCITOS NA ADJETIVAÇÃO DE “PARAÍBAS” AO NORDESTINO





Tendo estudado ou não Geografia, grande parte dos nordestinos sabe, entre estes muitos que não sabem ler e nem escrever porque dedicaram sua vida a resistir aos encautos do clima semiárido, que somos um povo diferente de todos os outros do resto do Brasil. Não foi a toa que o pré-moderno Euclides da Cunha escreveu em sua obra  OS SERTÕES que “o sertanejo é antes de tudo um forte”, quando se referiu ao aspecto climático do Nordeste brasileiro.

Somos ascendência de um povo descrito pelos cronistas portugueses da época da colonização, como é o caso do Gabriel Soares de Sousa no seu TRATADO DESCRITIVO DO BRASIL, de 1587, como selvagem e bárbaro, adjetivos direcionados àqueles índios chamados de “tapuias” que habitavam as encostas dos rio Paraíba, Maranhão e Rio Grande e eram valentes e guerreiros ao defender as suas lavouras que ora estavam sendo invadidas pelos europeus exploradores.

Não obstante, esses povos primeiros tiveram comportamentos muito parecidos com o povo de Canudos em Pernambuco no final do século XIX ao defenderem a sua aldeia quando o Governo da República Velha não os aceitou com suas especificidades culturtais e religiosas. A descrição de Euclides da Cunha àquele sertanejo não foi, mais uma vez reafirmando, do nada.

O nordestino não foge também da descrição bastante prática e real que marca a sua característica linguística, também herdada de sua ancestralidade autóctona, dada pelo poeta Patativa do Assaré, que tão bem demonstra o espírito forte e lutador desse povo, através de seus textos originalmente escritos no nosso dialeto.

Também nos adequamos, nós nordestinos, a todas as caricaturas personalísticas propostas pelo nosso mais atual literato que o espírito ainda soa bastante vivo na nossa memória, o dramaturgo Ariano Suassuna, nosso contemporâneo “paraíba”.

Ao mundo afora, também não fugimos dos tantos efeitos de estilos que enfeitam a musicalidade, o ritmo, as melodias e notas empregados para dar sentido à arte nordestina que incendeia mundos e fundos, dentro e fora do Brasil e encanta os mais inteligentes apreciadores.

Não estaríamos tão distantes da adjetivação proposta pelo nobre Presidente Jair Bolsonaro, caso os motivos, o contexto e os fatores que lhes obrigam a descrever o nordestino como “paraíba” fossem os mesmos utilizados em todos esses contextos artísticos que descrevemos, pois são eles que revelam nossa mais nobre individualidade enquanto indivíduo social de caráter especial da nossa nação.
Não. Não ficaríamos irritados, muito menos indignados.

O problema é que, na sua fala, que até agora não sei se adquirida criminosamente ou não ou se captada por acaso, já que vivemos a Era da Tecnologia Digital e temos em mãos, quase sempre, um desses aparelhos que captam imagens e sons e podemos usá-lo de muitas formas e para atender diversos interesses, os valores de referência negativa ao povo nordestino foram veementes. Inegáveis, na sua expressão discursiva e física, na sua linguagem, que já é perceptivelmente específica.

Como sabemos que todo discurso é intencional, não há como não perceber que os valores ali difusos são amplamente negativos, para desqualificar e estimular uma retórica pejorativa, preconceituosa, que faz-nos ocupar o lugar de algo JOCOSO.
Lamentável saber que temos um presidente que tem em sua expressão física o exemplo caucasiano de gente elevadamente desenvolvida, mas, que se utiliza de um comportamento tão VULGAR para falar de “gentes” que pagam impostos, compram, vendem, trabalham, comem e bebem e têm os mesmos direitos instituídos na legislação de uma nação a qual esse senhor governa e que se orgulha, NÃO SE ENVERGONHA, do que já produziu em termos de patrimônio material e imaterial ao Brasil.  

Por Mônica Freitas

domingo, 7 de julho de 2019

MISOGINIA OU MISANDRIA? QUAL VOCÊ PREFERE?


Imagem ilustrativa extraída da internet

Não se pode deixar passar longe dos debates atuais as questões que surgem diante de um discurso claramente pré-meditado para provocar em homens e mulheres a disputa de sentimentos que demonstrem defesa, desprezo, ódio ou favorecimento ao caráter que define as extremidades entre gêneros, mesmo que isto se relacione apenas à condição feminina X masculina. 

Nessas discussões, muito evidentes em redes sociais, fazem perceber que o discurso misógino se sobrepõe ao misândrico, uma vez que, é muito menos intenso o discurso anti-machista. Este muitas vezes é reforçado pela própria mulher, principalmente quando escutamos frases do tipo: "Ah, mas ela teve culpa", ditas por mulheres em casos de estupro. 

Mas, o que mais é absurdo é ouvir e ler certas frases sendo proferidas por membros dos poderes Executivo e Legislativo brasileiro, claro, fundamentadas em um senso comum bastante raso e sem reflexão sobre o real papel de um Chefe de Estado. Ressalto, não se trata apenas de saber que os ditados em linguagens chulas existem, mas, de repudiar a provocação e a disseminação de um ideário que estimula um comportamento vil, seja este disseminado por qualquer discurso, misógino ou misândrico. Pois bem, diante disto, trazemos aqui a definição do que seja a misoginia e a misandria. Ao leitor ou leitora, apenas o recado para que adentrem aos seus interiores e reflitam a partir da pergunta: 

Eu sou misógino (a) ou misândrico (a)? Porque sabemos que ambos existem e podem ser sentimentos e pensamentos bastante distorcidos da realidade. 

MISOGINIA -  é a repulsa, o desprezo ou ódio contra as mulheres. Uma forma de aversão patológica ao sexo feminino diretamente relacionada com a violência que é praticada contra a mulher na nossa sociedade. Um sentimento que dá origem a outros, como: mulheres:  ginecofobia, ginofobia, antifeminismo, androcentrismo. 

Este comportamento é o principal responsável por grande parte dos assassinatos de mulheres, ou seja, o feminicídio, muito em alta no Brasil. Etimologicamente, a palavra "misoginia" surgiu a partir do grego misogynia​, ou seja, a união das partículas miseó, que significa "ódio", e gyné, que se traduz para "mulher". Um indivíduo que pratica a misoginia é considerado misógino. Se o indivíduo tem comportamento contrário a este, trata-se da prática da  filoginia, que é o amor, afeto, apreço e respeito pelo sexo feminino.

CAUSAS DA MISOGINIA - a cultura social do machismo  está intrinsecamente presente em quase todas as sociedades humanas há séculos preconizando a superioridade do macho, ou seja, tentando perpetuar o patriarcado, o sexismo que deslancham juntos o preconceito e a desvalorização das mulheres. Mesmo hoje, após tantas conquistas e comprovações de que mulheres não são inferiores aos homens, ainda é possível se encontrar o desafio de se enfrentar os discursos e atitudes que revelam tais atitudes. 

MISANDRIA -  nome dado ao sentimento de raiva ou aversão praticado contra o sexo masculinoEtimologicamente, o termo "misandria" surgiu do grego misosandrosia, composto pela junção das partículas misos, que quer dizer "ódio", e andros que significa "homem". Apesar de sabermos que é um comportamento inadequado à mulher e que NÃO DEVE SER ALIMENTADO, diante da superior existência da misoginia sobre a misandria, há questionamentos, devido a importante carga histórica que carrega o preconceito sofrido pelas mulheres ao longo dos séculos. Muitos, inclusive pesquisadores acreditam que a misandria é apenas uma forma de defesa da mulher diante do comportamento misógino. 

Enquanto pessoa que defende a ideia de que as mulheres não são inferiores e de que o respeito a estas deve ser o primeiro passo para encerrar qualquer debate e discurso misógino, ressaltamos que conhecemos a importância do sexo masculino e de todos os outros gêneros na formação da sociedade. Portanto, misoginia, misandria ou mesmo a homofobia não nos compete enquanto comportamento. Acreditamos que evitar qualquer discurso referente a ambos é o caminho mais adequado. Mesmo que sejamos apenas uma pessoa comum. Ainda mais quando somos pessoas públicas, mais ainda se ocupássemos os espaços da chefia estatal. 

Por Mônica Freitas 
Conceitos consultados em: https://www.significados.com.br

sábado, 18 de maio de 2019

Bolsonaro sabe a fórmula da água? Com a palavra um professor de Química da UFBA



Eu duvido. A gente pode achar que saber a fórmula da água é repetir H.2.O. Pronto. Permita-me discordar do presidente

Saber a fórmula da água é conseguir olhar para essa representação e reconhecer que nela se encontra a partícula formadora de um recurso natural do planeta que não está disponível para todos. Tá sendo privatizado.

É reconhecer que tem H2O na lágrima da mulher preta que chora por seu filho morto.E chorar junto com ela. E não aceitar. E lutar para mudar isso.

É saber que o conjunto de moléculas de água que não chega no sertão, tem relação com a falta de políticas públicas e não com os limites naturais que nós já fizemos recuar.

Saber a fórmula da água é reconhecer que essa substância está presente na composição de uma porção de medicamentos que não chegam nos postos de saúde, por falta de uma política que valorize o SUS.

Saber a fórmula da água é saber que esse líquido corre nas nossas veias e compõe o sangue. Sangue derramado todo dia por uma galera que insiste em lutar.

Caro Bolsonaro, quem sabia, de fato, a fórmula da água estava lá para lutar. Quem não sabia, estava lutando pelo direito de saber. Lutava por uma educação que não ensina "apenas" a formula da água ou regra de três, mas a humanidade encarnada e as contradições em cada um desses conceitos

A gente sabe a fórmula da água. Mais do que você. A molécula H2O tá na saliva que a gente não consegue engolir quando gritamos: "A nossa luta unificou, é estudante junto com trabalhador".

 Eu não ensino a meus alunos a recitarem H.2.O. Eu ensino o que essa representação significa para formar a humanidade!

Texto de Hélio Messender, professor do Instituto de Química da UFBA.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

A COMPREENSÃO MASCULINA SOBRE O FEMINISMO QUE PRECISAMOS ADOTAR



Foto do Facebook


A despeito da opinião de certa autoridade, nós temos muitas dívidas ao longo da história. Dívida para com os índios, os negros, os homossexuais, os especiais, os cadeirantes. A lista é imensa.

Mas, talvez, nossa maior dívida seja mesmo com as mulheres. Dívida alta, séria e difícil de pagar, porque só aumenta.

Nós devemos às mulheres o reconhecimento de ser parte fundamental da existência humana.

Nós devemos a elas, a desculpa bíblica de tê-las julgado como culpadas pelo pecado. 

Nós lhes devemos o direito de serem iguais como cidadãs. 

Devemos-lhes a oportunidade de fazer o que quiserem como qualquer homem pode fazer, sem serem apontadas como putas ou vagabundas ou sem vergonhas.

Nós devemos a elas o direito de gritarem seu feminismo sem serem julgadas como as donas do mi mi mi.

Devemos a elas o respeito e a reverência que merecem por serem mães, irmãs, esposas, amigas dedicadas e incansáveis, aguentando todo machismo e covardia de um sexo dito forte (e até do dito frágil também).

Nós lhes devemos as desculpas por tudo já praticado e que não deixa de ser, quando aquele político fala de uma "fraquejada", ou quando o marido espanca a "sua" esposa, ou quando o boyzinho estupra a "safada de roupa curta que estava se oferecendo".

Nós somos seus devedores por termos criado uma sociedade tão machista, que até muitas delas mesmas se acham culpadas, quando na verdade são as vítimas.

É triste que ainda hoje nos deparemos diariamente com os mais absurdos casos de humilhações, agressões e assassinatos de mulheres. E que esses casos não choquem e nem toquem os corações daqueles que não choram.

Talvez sejam justamente lágrimas que nos faltam para lavar nossas vistas e enxergarmos que somos todos Eva, Maria, Sara, Rita, Madalena, Joana, Alice, Sandra, Amanda, Marielle...



Professor Simoneto Paiva 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

MUSEU LUIZA CANTOFA: ENTRE O AQUI E O ACOLÁ



O Museu Luiza Cantofa é uma entidade cultural ligada à associação do Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi (CHCTPLA), que prioriza como finalidade não somente o resgate histórico do poco Tapuia Paiacu de Apodi, mas a reconstrução e reelaboração da cultura deste povo pré-colombiano, presente no Território Pody, posteriormente chamado Ribeira do Apodi, quando requerida e recortada como terras a serem colonizadas na segunda metade do século XVII por Manuel Nogueira Ferreira e seus familiares enviados pela Coroa Portuguesa para fins do capitaneamento hereditário. 

O CHCTPLA é formado apenas por famílias que tenham histórico de pertencimento indígena, ou seja, famílias que relatem a ascendência (parentesco genealógico) com os primeiros habitantes de Apodi, o que garante o direito à autoafirmação disposto em diversos códigos legais, desde à Constituição Federal  e convenções internacionais, como a Convenção 169 da OIT ao Estatuto do Índio. Na convenção 169 é o artigo 1º que fundamenta o direito à auto-identificação quando diz que considerados indígenas os povos que vivem em


países independentes e descenderem de populações que viviam no país ou região geográfica na qual o país estava inserido no momento da sua conquista ou colonização ou do estabelecimento de suas fronteiras atuais e que, independente de sua condição jurídica, mantêm algumas de suas próprias instituições sociais, econômicas, culturais e políticas” (OIT, 2005, art. 1º).

É sabido por todos os apodienses que a história indígena deste município é muito forte, carregada de fatos que incluem desde conflitos pequenos a massacres mais sangrentos como o ocorrido em 1825, quando índios Tapuia Paiacu que tinham sido levados de Apodi a Portalegre se envolveram em uma revolta e por isto foram presos, posteriormente mortos em um massacre ao pé da serra, onde hoje está situado o município de Viçosa. Fato este que também contribuiu para o silêncio de algumas famílias que permaneceram em Portalegre e outras de Apodi sobre as relações de pertencimento à antiga tribo Tapuia Paiacu. De lá para cá, o medo deu margem à chamada "miscigenação" como negros e com brancos, base fundamental da formação do nosso povo. No entanto, alguns ascendentes atuais resistem em se autodeclarar pertencente ao povo Paiacu pelo fato de já conhecerem os aparatos legais que fundamentam a auto-afirmação e por terem realmente relato de histórico familiar da ascendência. 

Nesse contexto de busca pela representação étnica, fundado por Lúcia Tavaris, também de ascendência indígena e hoje liderança do povo Paiacu, o Museu Luiza Cantofa abriga peças líticas que eram guardadas pelas famílias que se agregaram ao CHCTPLA. Muitas tinham peças preservadas há séculos, passando de um membro a outro da família, hoje essas peças são parte do acervo do primeiro museu indígena do Rio Grande do Norte, que carrega o nome da índia Cantofa, uma das líderes, junto com João do Pêga da revolta ocorrida em 1825 em Portalegre. 

O referido museu, desde 2013, quando foi fundado por Lúcia Paiacu, como é conhecida, tem um  bom histórico de visitação por algumas escolas de Apodi e da região, tanto públicas quanto privadas, bem como de nível federal, estadual e municipal. As instituições de ensino superior como UFERSA, UERN, entre outras também já passaram pelo museu, que mesmo sendo uma entidade sem fins lucrativos costuma cobrar uma taxa básica para a visitação, visto a necessidade manutenção.  Entre os visitantes estão também museólogos de diversas partes do Brasil e também do exterior. 

Atualmente o museu foi desativado, as peças foram retiradas das prateleiras, pois, por não ter uma sede adequada, já que funcionava na sala da casa de Lúcia Paiacu, uma peça de imensurável valor histórico foi furtada do acervo. Esse fato contribuiu para a desativação, sendo mantido apenas a sede do CHCTPLA no mesmo endereço.  


Neste dia 23 de janeiro, terça-feira, estiveram visitando o Centro Histórico alguns museólogos e pessoas envolvidas com a organização de museológica na Itália.  Marco Tonon( museólogo) e diretor de museu da Itália, Loredana Caniglia, scienze Naturali, Graziella Perin e Guerrino Rossi (fotógrafo e corista). Eles queriam ver de perto o local que guarda a história dos primeiros povos do Sertão do Rio Grande do Norte. Além de visitar e conhecer um pouco da história que está no acervo do Museu Luiza Cantofa, os italianos quiseram saber mais sobre Apodi e foram levados por Isaac Torres que é Turismólogo colaborador do CHCTPLA e Lúcia Paiacu a fazer um City tour pela cidade passando pela Igreja Matriz, Lagoa do Apodi e Missão 1, Balneário da Lagoa e pra finalizar foram ao prédio que está sendo preparado para abrigar o Museu do Índio Luiza Cantofa, situado às margens da Lagoa do Apodi, próximo ao balneário. 


Fotos extraídas do Facebook de Lúcia Maria Tavares. 
Os italianos, assim como tantos outros visitantes do acervo indígena apodiense, entre os quais estão museólogos, professores universitários, arqueólogos e antropólogos são taxativos em afirmar a importância das peças guardadas pelo povo Paiacu. São de raridade imensurável e deveriam ter maior atenção do povo apodiense, mesmo os que não se autodeclaram ascendentes indígenas. O fato é que, mesmo já tendo escutado essas afirmações tantas vezes, o que se observa é o distanciamento dessa história da nossa sociedade. 

Há um certo desprezo pela história e esse comportamento é confirmado por algumas pessoas que com toda a sinceridade afirmam: "Essa história não interessa a ninguém, quem diz que tem interesse está sendo hipócrita". São as frases mais escutadas, às vezes lidas em comentários em redes sociais. E como comprovação desse "desleixo" estão inclusas as próprias atitudes políticas de quem ocupa o poder público. E quanto a isto não é necessário nomear ninguém, já que o histórico de abandono é de tão longo tempo que se faz inviável a identificação. Além disso, a perseguição aos que estão envolvidos na causa pela reelaboração da história, da cultura, dos costumes, que é um direito garantido na Constituição já é visível. E tudo pelos mesmo motivos de 190 anos atrás. 

Por isso, dizemos que o Museu Luiza Cantofa está entre o aqui e o acolá; o aqui da nossa história que ninguém mais pode apagar, ao ponto de Apodi ser denominada "Terras dos Tapuias Paiacus" e acolá por ser uma história com forte pressão para o esquecimento, com o apoio político e da sociedade, quando se trata de aceitar a auto-identificação dos que não negam as suas raízes. 

Por Mônica Freitas


sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

(HISTÓRIA NEGRA) QUEM FOI SARAH BAARTMAN?


Imagem extraída de
 https://www.facebook.com/desmentindoahistoriabranca/photos/rpp.570638413391972/613329192456227/?type=3&theater

TODAS AS MULHERES NEGRAS AINDA SÃO VISTAS COMO SARAH BAARTMAN.
Quem?
Também conhecida como Saartjie, Vênus Negra, Vênus Hotentote…
Nada ainda? Nunca ouviu falar? Então mesmo esqueminha de sempre, senta aí que a gente conversa.
Sarah nasceu em 1789 na região da Africa do Sul, perdeu os pais muito cedo, e aos 10 anos de idade foi trabalhar em uma fazenda holandesa fazendo serviços domésticos.
Chamou a atenção dos patrões por suas FORMAS ”INUSITADAS’’ e ‘’ANORMAIS” (percebam que nesta época a medida do mundo era dada pelo homem branco europeu, tudo que fugia disso era considerado desumano e anormal.
Quer dizer..era? Ou ainda é?
Prometeram leva-la para a Inglaterra, para se tornar uma ARTISTA que ficaria rica, e ela mesmo analfabeta SUPOSTAMENTE assinou um contrato.
Mas o que fizeram da vida breve dessa mulher foi desumano. 
Não existe outra palavra para descrever o que aconteceu. 
Ela se apresentava com uma roupa colada da cor de sua pele, fumando um cachimbo, e a história contada para o público era a de uma selvagem que foi capturada e domada.

Ela era ensaiada a emitir BARULHOS ANIMALESCOS e fingir que iria ATACAR OS BRANC’OS da platéia.
Usava uma COLEIRA e as pessoas que pagavam um dinheiro extra podiam tocar em suas nádegas avantajadas.
Sarah não queria ter que exibir seus órgãos genitais. Mas ao ser vendida para um novo ‘’dono’’ que era muito mais duro com ela, foi obrigada a se exibir totalmente nua, inclusive em festas noturnas onde HOMENS BÊBADOS se DIVERTIAM APALPANDO o seu corpo.
O racismo ”cientifico” estava em seu auge, logo o corpo de Sarah despertou interesse e curiosidade nos estudiosos da época.
Ela chegou a ser ‘ESTUDADA’ ainda em vida, era MEDIDA, CUTUCADA, APALPADA e constantemente COMPARADA com ORANGOTANGOS.
Começou a BEBER e FUMAR com muita INTENSIDADE para SUPORTAR estas apresentações TORTURANTES.
No entanto um grupo de ativistas da época ficou horrorizado com a forma como ela era tratada e iniciou um processo judicial contra os ‘empresários’ dela.
Mesmo assim Sarah os defendeu e afirmou receber metade do lucro do que eles faturavam, e mesmo que provavelmente estivesse sendo COAGIDA, o processo foi arquivado, afinal era APENAS UMA NEGRA.
Por motivos políticos, as apresentações se tornaram impossíveis, e Saartjie foi levada a se PROSTITUIR e tornou-se alcoólatra.
FALECEU aos 26 ANOS DE IDADE, (provavelmente) de sífilis.
Enfim descansou, e deixaram o corpo dela em paz né?

Claro que não!
Um naturalista fez um molde do corpo, antes de dissecá-la. Ele foi usado para definir uma fronteira entre a MULHER BRANCA ‘NORMAL’ e a MULHER AFRICANA ‘ANORMAL’.
Foram preservados o cérebro e os genitais que depois seriam expostos por muito tempo.
Até 1974 faziam parte do acervo público da França, sendo o ÓRGÃO GENITAL dela exibido ao lado do CÉREBRO de grandes homens pensadores, como Descartes.
Eu não destaquei essas duas palavras sem motivo.
Se vc já entendeu é isso mesmo! Caso contrário vou explicar:
O HOMEM BRANCO e a MULHER NEGRA seriam os DOIS EXTREMOS da humanidade, ele sendo representado pelo CÉREBRO, um ser RACIONAL, capaz de produzir o saber, e ela sendo representada pela VAGINA, um ser SEXUAL, e primitivo.
Várias tentativas foram feitas para se resgatar os restos mortais de Sarah e devolver ao continente africano para um enterro digno. 
Em 1994 o então presidente da África do Sul, Nelson Mandela mais uma vez fez o pedido ao governo francês, e somente em 2002 a solicitação foi atendida (demorou porque os caras de pau entraram na justiça para não devolver), assim 192 anos depois ela retorna ao lar, e é enterrada humanamente.

Depois de saber, que a objetificação sexual do corpo negro é histórica, que a suposta falta de aptidão intelectual das pessoas negras vem de muito longe ainda hoje esse estereótipo continua. 
Todas as vezes que dizem estar exaltando a mulher negra, colocam fotos de mulheres de costas, focando apenas em nádegas avantajadas

A crítica não é baseada no puritanismo, (cada um exibe o que quer e não há problema nenhum nisso) e sim na DINÂMICA SOCIAL que continua a mesma.
As mulheres negras são vistas como seres sexuais incapazes de produzir conhecimento, e de liderar. E quando isso acontece, são frequentemente questionadas e invisibilizadas.
Tudo isso fruto da falsa superioridade racial da branquitude e do pensamento colonizador.
Mulher negra não é só bunda!
Ela é avó, mãe, irmã, filha e esposa.
É chefe de família, advogada, engenheira e médica.
É empreendedora, professora, enfermeira, atriz e cantora.
É chef de cozinha, atleta, escritora, maquiadora e artesã.

Ela é tudo isso e muito mais. Ela é o início. O ventre que fecunda desde o princípio.
Sarah Baartman não teve justiça em vida. Mas ela vive em cada mulher negra que possui consciência da história de seu povo e desafia o sistema todos os dias para manter os seus e a si própria em pé.


Reedição e adaptação do texto de Alessandra Eduardo