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sexta-feira, 23 de junho de 2017

(HISTÓRIA E CULTURA) A primeira vitória dos últimos Paiacus

Ano de 2013, mês de fevereiro, quando recebi convite para fazer parte como sócio fundadora de uma associação denominada Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi (CHCTPLA). Naquele momento não tinha ideia do que se tratava, apenas que era uma organização para o resgate da história dos Tapuias Paiacus. 


Índia Tapuia Lúcia Tavares


Eu já conhecia Lúcia Tavares desde criança, já sabia que ela também tinha um relato familiar de "descendência" indígena, igual a mim, pois eu sempre soube, através de relatos do meu pai, de pessoas mais velhas que viviam na comunidade Bico Torto e de demais familiares que tínhamos genealogia pertencente aos índios que habitavam a antiga Ribeira do Apodi. Fui à reunião de fundação, dia 09 de fevereiro de 2013, momento em que foi lido o Estatuto da entidade que se pretendia. No final, após alguns poucos ajustes, a ONG estava fundada. 

A partir desse momento comecei a conhecer a história de Lúcia e a também me interessar pelo resgate da história dos índios Tapuias Paiacus, nome que era constantemente falado em determinados momentos em que se relatava a história de Apodi, mas sem muita precisão sobre o que representava esse povo para a nossa terra. Foi a partir de Lúcia que fui instigada a pesquisar, ler, fichar livros, artigos, teses de Doutoramento, Dissertações de Mestrado que falam da história dos tapuias Brasil à fora, no Nordeste e em especial no sertão do Rio Grande do Norte. 

Entre todos os aparatos históricos, os mais importantes são os documentos antigos: cartas que informam à coroa portuguesa acerca do povo tapuia em Apodi e que deixam bem claro a presença marcante desta etnia e dos massacres por ela sofridos a fim de seu extermínio, o que não ocorreu como muitos imaginam, pois se fosse verdade tal fato, não teríamos hoje um número de mais de 50 famílias vinculadas ao CHCTPLA, cada uma com seu relato familiar de pertencimento genecológico ao grupo indígena Tarairiu, que foi chamado pelos portugueses de Tapuias por motivo da variação linguística Tupi Guarani.

Pois bem, desde 2013 que a autoafirmada índia tapuia Lúcia Maria Tavares,  seus familiares e as demais famílias do CHCTPLA lutam por espaço social e reconhecimento histórico através dessa associação, que não tem fins lucrativos, que nunca recebeu qualquer valor, nem do governo federal, nem estadual e nem municipal. Nem mesmo mensalidade de seus associados é cobrada. Para participar de eventos como congressos, conferências e seminários os valores gastos são das próprias finanças de Lúcia e de quem vai com ela ou com a ajuda de amigos e colaboradores do Centro Histórico. MENTE quem dissemina comentários dizendo que a associação dos indígenas de Apodi e o Museu Luiza Cantofa recebe dinheiro de algum órgão. O que sempre existiu foi uma forte luta, travada em alguns momentos contra o próprio poder público, que muitas vezes negou valores irrisórios quando a entidade precisou durante todo esse tempo. 


Lúcia Tavares e seu neto Guilherme,
recebendo das mãos do prefeito Alan Silveira documento de cessão
para funcionamento do Museu Luíza Cantofa. 

A primeira vitória foi registrada no dia 22 de junho de 2017, nesta quinta-feira, quando Lúcia Tavares recebe do prefeito de Apodi, Alan Silveira, a cessão de um prédio localizado às margens da Lagoa do Apodi, território onde era fixada a antiga aldeia Paiacu. 

Agora, a continuidade da luta dos últimos paiacus pela organização de um local que possa servir como marco de preservação da história é a reforma do referido prédio, pois sabemos o quanto há de dificuldade para tal feito. No entanto, este objetivo será perseguido até que se tenha resposta positiva, até que alguém se sensibilize e os recursos apareçam e possam ser usados para uma obra que ao mesmo tempo é histórica, cultural e turística. Certamente trará grandes contribuições para a identidade e o desenvolvimento do município. 


Por Mônica Freitas 



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