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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

[CRÔNICA] O MEDO





Primeiro é a sensação de estar sentindo o frio na barriga, os arrepios torturantes, a dor. Aí o suor aparece descendo na vereda mais aprofundada que fica ao meio das costas. Fechamos os olhos e na primeira brisa suave vai diminuindo os devaneios da mente. Mas, quando recai aquela alvoroçada percepção de que tudo pode ser real e que podemos não suportar, a brisa vira furacão e começamos a rodopiar pelos lugares mais atrapalhados. A repulsa só aumenta e o próximo passo é tentarmos fugir igual o diabo foge da cruz, como dizem alguns que veem o maligno em quase tudo.

Sozinhos, com visão de futuro escura, turva e inalterável, saímos de fininho, andamos mais depressa, corremos e até voamos nas asas da imaginação para não enfrentar situações que às vezes são muito fáceis de prever. Ajuda de santos, milagres, a presença do próprio Deus ou aquele fenômeno que também é inexplicável chamado de sorte são bem-vindos e sempre nos auxiliam dizendo: “Vá em frente!”. Aí a brisa suave volta com todo o seu frescor. Ganhamos vida, o sol reaparece e a chuva somente cai para regar as flores que precisam mostrar as cores de suas pétalas. E os jardins floridos, na maioria das vezes nos mostram como estávamos enganados.

Mas, nem sempre é possível contar espíritos do bem. Há os que vêm da luz profunda que queima almas. Quando o próprio dono das trevas resolve manifestar suas trevas e acalorar o temor, ele traz consigo uma bagagem atupetada de experiências que narram a história de sonhos desfeitos, de vidas ceifadas, de cortes profundos e de cicatrizes que envergonham. Ali não há milagres, não há santos, não há sorte e muito menos Deus. O que existe mesmo é o tom negativo da morbidez e do macabro sentimento que derruba vidas.

Aí fechamos o casulo do sonho, partimos para uma vida mundana, onde espalhar desesperança vai se configurando em metas diárias, horárias e instantâneas. É possível sentir que, ao sermos tomados por esse sentimento medonho, que quase sempre não podemos controlar, deixamos de ouvir na mesma medida em que falamos demais. Ele nos controla ao mesmo nível em que queremos controlar o outro e também fazê-lo discípulo do que é mais horroroso e temível intimamente, o nosso próprio medo.

Sentimos o medo como aquele ser versátil que pode nos manipular e ser manipulado a cada instante, para cada circunstância. O medo é um antídoto, às vezes. E tem como função, a preparação para o caos; mas, na iminência da glória, quando vencido, é a preparação para a vida em abundância.

Por Mônica Freitas


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