Primeiro é a sensação de estar
sentindo o frio na barriga, os arrepios torturantes, a dor. Aí o suor aparece
descendo na vereda mais aprofundada que fica ao meio das costas. Fechamos os
olhos e na primeira brisa suave vai diminuindo os devaneios da mente. Mas,
quando recai aquela alvoroçada percepção de que tudo pode ser real e que
podemos não suportar, a brisa vira furacão e começamos a rodopiar pelos lugares
mais atrapalhados. A repulsa só aumenta e o próximo passo é tentarmos fugir
igual o diabo foge da cruz, como dizem alguns que veem o maligno em quase tudo.
Sozinhos, com visão de futuro
escura, turva e inalterável, saímos de fininho, andamos mais depressa, corremos
e até voamos nas asas da imaginação para não enfrentar situações que às vezes
são muito fáceis de prever. Ajuda de santos, milagres, a presença do próprio
Deus ou aquele fenômeno que também é inexplicável chamado de sorte são
bem-vindos e sempre nos auxiliam dizendo: “Vá em frente!”. Aí a brisa suave volta
com todo o seu frescor. Ganhamos vida, o sol reaparece e a chuva somente cai
para regar as flores que precisam mostrar as cores de suas pétalas. E os
jardins floridos, na maioria das vezes nos mostram como estávamos enganados.
Mas, nem sempre é possível
contar espíritos do bem. Há os que vêm da luz profunda que queima almas. Quando
o próprio dono das trevas resolve manifestar suas trevas e acalorar o temor,
ele traz consigo uma bagagem atupetada de experiências que narram a história de
sonhos desfeitos, de vidas ceifadas, de cortes profundos e de cicatrizes que
envergonham. Ali não há milagres, não há santos, não há sorte e muito menos
Deus. O que existe mesmo é o tom negativo da morbidez e do macabro sentimento
que derruba vidas.
Aí fechamos o casulo do sonho,
partimos para uma vida mundana, onde espalhar desesperança vai se configurando
em metas diárias, horárias e instantâneas. É possível sentir que, ao sermos
tomados por esse sentimento medonho, que quase sempre não podemos controlar,
deixamos de ouvir na mesma medida em que falamos demais. Ele nos controla ao
mesmo nível em que queremos controlar o outro e também fazê-lo discípulo do que
é mais horroroso e temível intimamente, o nosso próprio medo.
Sentimos o medo como aquele ser
versátil que pode nos manipular e ser manipulado a cada instante, para cada
circunstância. O medo é um antídoto, às vezes. E tem como função, a preparação
para o caos; mas, na iminência da glória, quando vencido, é a preparação para a
vida em abundância.
Por Mônica Freitas
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