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segunda-feira, 2 de novembro de 2020

03 DE NOVEMBRO: 195 ANOS DO MASSACRE DE 70 ÍNDIOS EM PORTALEGRE

 


Final do século XVIII anos iniciais do século XIX, tempo conturbado na Vila de Portalegre, sede da Ribeira do Apodi, onde índios Tapuia Paiacu foram aldeados, desde 1761. Neste mesmo momento, dois movimentos importantes que estavam acontecendo e que estimulavam conflitos na região: a Revolução Republicana de 1817 e a Confederação do Equador. Por motivos de conflitos, alguns dos moradores da vila já haviam sido presos. Um desses casos foi o do Coronel José Francisco Vieira de Barros. Quem cita o cenário é José Sávio Lopes (2017) em seu romance histórico Dezessete. Ele se refere à época de forma descontraída que essa revolução também ficou conhecida como: Revolução Pernambucana ou Revolta dos Padres.

Tal Revolução teve como principal fim criar, no Norte do Brasil, uma república livre do domínio Português, tendo o dia 06 de março de 1817, ocorrido no Forte das Cinco Pontas, “quando o Leão Coroado reagiu à voz de prisão e matou a golpes de espada o seu comandante, Brigadeiro Manoel Joaquim Barbosa de Castro” (LOPES, 2017, p. 29). Tal revolução foi liderada por André de Albuquerque Maranhão e apoiada por alguns representantes da igreja e das milícias da Ribeira do Apodi, em especial das vilas de Portalegre, Patu, Apodi e Martins.

Como se tratava de uma revolução contra as execuções portuguesas e no momento os índios estavam insatisfeitos porque a Câmara de Vereadores lhes atribuiu terras improdutivas, situadas nas grutas e que não serviam para o cultivo da lavoura, certamente foram influenciados por esse momento de tensão. Segundo Morais (2005), naquele momento a população de índios era bem maior do que a de brancos na Vila de Portalegre. E quem traz informações sobre esse detalhe é Macedo (2002) com informações sobre os números de brancos, pardos, pretos, mulatos e índios daquele lugar no ano de 1805. Ao todo, no início de do século XIX 1017 moradores na Vila de Portalegre. Desse total, 262 eram brancos; 100 pretos, 255 mulatos e 400 índios.

Nonato Mota (s/d) é quem relata em seu manuscrito, a volta do Coronel Vieira de Barros. Segundo o texto, este chegou a Portalegre logo que saiu da prisão e encontrou a vila em estado anarquista. Os vereadores tinham tomado as terras improdutivas dos índios e tinham queimado suas casas, feitas de palha, por isso chamadas de “palhoças”. Além de ficarem sem terras e casas, alguns indígenas foram presos. Vieira de Barros, ao ver a situação, pensando em apaziguar, aforou alguns terrenos aos índios mais exaltados, porém nada disso adiantou.

As influências recebidas das revoluções já citadas e outros conflitos envolvendo índios e colonizadores em outros lugares do Brasil prevaleciam. Segundo Trindade (2010) foi justamente no sertão do Nordeste atual se iniciaram manifestações contra algumas das determinações do imperador D. Pedro I. Pernambuco foi cenário do primeiro movimento liderado por Frei Caneca em protesto ao autoritarismo do imperador, que havia fechado a Assembleia Constituinte, impondo outras leis que lhes davam poderes excepcionais. Os povos envolvidos queriam a independência e um governo republicano por parte dos liberais, mas, os grandes proprietários estavam insatisfeitos com os altos impostos.

Enfim, não há como negar o contexto de revolução que influenciava também as relações entre os índios aldeados e os colonos. E este fator foi primordial para que ocorresse um dos massacres mais sangrentos da história dos conflitos envolvendo portugueses e indígenas do Oeste Potiguar no tempo da colonização, sendo o cenário do episódio a Serra de Portalegre. Tudo aconteceu depois de um ataque indígena aos moradores da Vila de Portalegre. Segundo Mota (1920), os índios invadiram a vila sob a liderança de Luiza Cantofa e João do Pêga. Travaram luta com os moradores e o delegado de polícia, o Capitão Bento Ignacio de Bessa foi morto. O Coronel Vieira de Barros se suicidou e os índios, em sua grande maioria foram presos e algemados na cadeia da vila.

 

Passaram alguns dias, mas, já sabendo que seriam levados em escolta à cidade de Natal para lá ficarem definitivamente presos. Nonato Mota (s/d) ao relatar os fatos que ocorreram, diz que no dia 03 de novembro de 1825, “ao chegarem ao pé da serra, entre o sítio Viçosa e a Vila de Port’ Alegre, levantaram uma grande cruz, e depois de rezarem um terço, foram os presos passados pelas armas [...]” (MOTA, s/d, p. 65). Dezenas de índios foram assassinados. As notas históricas falam de 70 índios, porém, é possível inferir que pela sua dimensão e por falta de documentos que comprovem de fato as perdas da parte dos índios, esse quantitativo pode ter sido bem maior. Após o fato, os relatos indicam que os principais autores dessa chacina nada pagaram pelo crime. Foram eles: Antônio Bezerra, Florêncio de Albuquerque, Antônio Caboba e Joaquim Cavalcante. Os índios sobreviventes do confronto foram retirados com suas famílias para os centros dos Cariris no Estado do Ceará, não mais tendo voltado ao sertão do Rio Grande do Norte (MOTA, s/d).

Luiza Cantofa, a velha índia que vivia com sua neta Jandi na vila conseguiu escapar do massacre e se esconder na Serra por alguns dias. No entanto, moradores deram conta de seu esconderijo, o que fez com que seus algozes a encontrassem no topo da serra de Portalegre e ali mesmo ela fosse morta na frente da neta, com uma punhalada no peito. Jandi nunca mais foi vista, João do Pêga também fugiu e não mais foi visto. E hoje, resta apenas a memória histórica fixada na cidade de Portalegre: na Casa de Câmara e Cadeira (Museu Histórico), no terminal turístico da Bica e na cova de Cantofa, no alto da Serra.

 

Por Mônica Freitas

Texto com base na Dissertação de Mestrado de sua autoria.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

ÍNDIO QUINHENTISTA NÃO, MAS ÍNDIO...

 


O Coletivo Indígenas do Vale do Ceará-Mirim vem por meio desta nota demonstrar todo seu repúdio às declarações racistas, equivocadas e negacionistas com relação à existência dos povos indígenas no Rio Grande do Norte, sobretudo aquelas que foram dadas recentemente contra membros individuais da comunidade, que resultou consequentemente em um ataque coletivo a todos nós, povos indígenas do Estado.

Muitas vezes é preciso explicar o óbvio, sobretudo para membros mal-intencionados e conservadores negacionistas da academia. Primeiro é preciso entender que sociedades se transformam, sobretudo quando existem fatores como guerras, violência e invasões, motivando inevitáveis mudanças em povos invadidos. Nós, indígenas e descendentes, estivemos, estamos e sempre estaremos aqui distribuídos em diversos povos e etnias. Quem espera encontrar indígenas apenas em ocas e pintados, sem mistura genética, falando apenas sua língua original, sem nenhuma interferência de outras culturas, sobretudo depois dos cinco séculos de etnocídio, é porque não conhece a violência (ou finge cinicamente não conhecer) do processo de colonização que visava eliminar, extirpar, tudo que não fosse branco, cristão e patriarcal da organização social do que estavam violentamente a construir. Esperar que indígenas vivessem hoje de forma intocada após esse intenso contato e violência seria o mesmo que esperar ainda que portugueses vivessem em casas sem tecnologia atual e viajassem apenas em caravelas, trajando roupas do séc. XVI. Culturas se transformam, ganham, trocam, perdem e nem por isso deixam de existir enquanto cultura, enquanto DNA, enquanto povo.

Qualquer escritor, estudioso, pesquisador, ensaísta, por mais prestigiado que seja, errou ao dizer que não existem mais indígenas no Estado do Rio Grande do Norte. Essa é uma visão conservadora, reducionista e etnocída. Serve apenas aos planos da colonização iniciados com a invasão europeia há 500 anos, que dividem para enfraquecer, que negam a existência para apagar. Indígenas não existem só na Amazônia, não apenas nas florestas isolados. Existimos em todas as regiões do Brasil, da Caatinga à Mata Atlântica, das cidades ao campo. Estamos em aldeias, em comunidades reconhecidas e, também, naquelas ainda não reconhecidas. Existem indígenas heterossexuais e, também, LGBTQI+, com pele clara e escura, com cabelos lisos e, também, cacheados, com fé e, também, ateus. Somos diversos, somos muitos. Indígenas vivem muitas vezes sem saber o que são, sem certeza sobre sua etnia, língua original, afinal, séculos de perseguição deixaram marcas severas. Poucos seguiram se autodenominando indígenas enquanto eram ameaçados de morte, considerados incivilizados, incultos, obscenos, inferiores, vulgares, sujos e “sem deus”. Não podemos esquecer que nessas terras aconteceu a chamada Guerra dos Bárbaros, talvez o maior massacre declarado em terras brasileiras cujo objetivo era eliminar por completo o povo originário da Terra. Até bandeirantes vieram do Sudeste para assassinar nosso povo na tentativa de cumprir o plano de extermínio total. Muitos padeceram, etnias inteiras sumiram, mas não foram todos que morreram, aqueles que sobreviveram encontraram alguma forma de fazê-lo, e a verdade é que seguimos existindo, mesmo menos organizados e em menor número do que antes.

Existem indígenas mestiços e, também, sem mistura racial. Muitos dos que hoje chamam de “pardos” não são negros ou brancos, como os sensos e algumas retóricas (também etnocídas) insistem; são, na verdade, indígenas que perderam o espelho para ver refletir o que de fato são. E, por isso, cada vez que um parente nosso volta a se classificar como indígena, cada vez que uma comunidade volta a se dizer indígena, um ancestral nosso revive e volta para casa com ele. O Brasil não se formou da mesma forma em todas as regiões, em alguns lugares a presença e contribuição brancas foram maiores, em outros, a negra. No RN, sem sombra de dúvida, a indígena teve (e segue tendo) um papel fundamental na formação genética e cultural do Estado. Claros vestígios dessa rica contribuição estão no comportamento, na culinária, na medicina tradicional, nos mitos, lendas e, também, na religiosidade do norterriograndense. Isso é cultura viva!

E para quem segue achando que a genética é a única forma de classificar um povo, segundo um estudo genético recente realizado por diversas universidades internacionais e publicado em 2017 no BWC Evolutionary Biology, mais de 50% do DNA mitocondrial das pessoas vivas do Rio Grande do Norte provém de ancestrais indígenas (distribuídos entre os haplogrupos A, B, C, D e X). Ou seja, grande parte de nossas mães ancestrais são indígenas e de etnias indígenas muito diversas. Novas evidências arqueológicas serão reveladas em breve com o devido cuidado e estudo, evidenciando e marcando ainda mais nossa presença no Estado do Rio Grande do Norte.

Mesmo esquecidos por governos, negligenciados pela elite branca, mesmo silenciados por retóricas etnocídas de diferentes grupos, repito: Estivemos, estamos e sempre estaremos aqui!

Como disse uma vez o guerreiro indígena Sepé Tiaraju: “Ko yvy oreko hara” – Essa terra tem dono!

Assinam conosco esse texto a APOINME (Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo) e as comunidades indígenas: as comunidades indígenas Eleotérios do Katu através de seu representante Luiz Katu , os Potiguaras do Amarelão através de sua liderança Tayse Campos , a Aldeia Santa Terezinha através de sua liderança Dioclécio Mendonça, a Aldeia Serrote de São Bento através de sua liderança Rejane Batista e a Associação Indígena de Marajó através de sua liderança Kaline Bezerra Felipe. Todos assinamos juntos essa nota de repúdio contra o etnocídio e o racismo dessas declarações abomináveis! ✊🏹 Sonia Bone Guajajara Cadu Carlos Neide Akanguasú Novenil Frank Îagûara Hugo

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Esconder é melhor!?


Imagem disponível em: https://blogdescalada.com

Não é só no Brasil. Igual à pandemia de Covid-19, acontece em todo o planeta Terra, desde os primórdios. Aqueles que têm mais acesso à informação, como forma de manter o seu domínio sobre os demais, tentam esconder o que sabem, as realidades, os detalhes de uma determinada situação, conhecimento, fato, saber. Em outras palavras, tenta-se, a todo custo, esconder aquilo que chamamos de "verdade" quando sabe-se que esta pode provocar algo que não satisfaz, às vezes, as intenções e necessidades de grupos privilegiados. 

Linguisticamente falando, o termo utilizado para identificar tal prática é o "obscurantismo", através do qual, de forma intencional, faz-se de tudo para impedir que os fatos ou os detalhes de algum assunto se tornem conhecidos. Ou seja, aquela sujeira que não pode ser conhecida por todo mundo, é escondida debaixo do tapete. Outro detalhe da prática são os grupos que costumam adotá-la. Historicamente tem sido observada no modus operandi de muitos politicos, sem discriminação de ideologia ou partido. Mas, principalmente quando estão em suas campanhas eleitorais e mais ainda quando ocupam uma cadeira no poder.

As práticas mais comuns são: esconder do povo a real situação econômica do país - e todos já sabem para que -, não distribuir de forma ampla as condições para que toda a população tenha acesso ao conhecimento acumulado pela humanidade nao investindo em educação de qualidade e além disso espalha um discurso de desvalorização e ofensa aos professores, tentar impor uma religião ou seita religiosa, a fim de, por meio da exploração da "fé" possa ludibriar com conceitos muito mais voltados para o mal da própria pessoa quanto para o bem. 

E ainda, a repulsa pela ciência é um das concepções ideológicas mais disseminadas por políticos que praticam o obscurantismo, e com isso têm como fim se autopromover enquanto figura histórica, ao mesmo tempo em que se aproveita do cargo para enriquecimento ilícito e distribuir privilégios com seus associados, na maioria das vezes usando o próprio povo, que sem conhecimento porque não tem acesso a este, se aliena na ideologia daqueles que respeita como líderes. 

Mas, o que nos desperta mais atenção é perceber que, em pleno século XXI, quando a ciência já permitiu ao ser humano fazer descobertas fantásticas, quando se tem provas muito reais disso nas áreas da Biologia, da Química, da Matemática, da Física, nas Linguagens e na Tecnologia e todas, sem excessão têm base em reflexões que não se descarta o pensamento filosófico, ainda há quem acredite em quem a nega. E essas práticas são muito visíveis na mente das pessoas, ganham corpo em meio à população de diversos países, às vezes por motivos distintos, dependendo de cada realidade. 

Há países que o povo também sabe por qual motivo a prática é adotada. Em especial quando o país quer se tornar potência mundial. Ter outras nações subjugadas aos seus moldes, neste caso, é um avanço. Maquiavélico, ganancioso, pretencioso, intrépido, mas, com um objetivo nacional. Em outros casos, o subordinado que pensa no seu alcance individual ou apenas no do seu grupo, sacrifica um país inteiro às práticas de colecionar erros e empurrá-los para debaixo do tapete.

Não é difícil perceber que em nosso meio, o obscurantismo está na moda e, considerando que o povo gosta de modismos, nao saber História, Geografia, não comnsiderar os conhecimentos da ciência ou não ter conehcimentos de qualquer outra área e defender a corrupção da Lei - dependendo de qual político ou partido você está defendendo - também é moda. Dá vez, muito mais à emoção, falando e escrevendo sem pensar, exaltando a própria vontade, que tem base e enxerga apenas pouco espaço após a ponta do nariz, nos dias de hoje, tem levado muita gente a adotar práticas dessa moda. 

Na minha visão, o tal do "opinar de forma politicamente INCORRETA", só para não se mostrar "politicamente CORRETO", como se errar fosse uma vantagem grande tem virado pauta para muitos buscarem ascensão nas redes sociais, espaço fértil para o plantio de qualquer erva, seja boa ou daninha. E isto não é por acaso, a maioria dos que fazem estão sendo levados por uma onda IDEOLÓGICA perigosa que não se sabe medir até onde nos levará. Esta é a pior parte, porque todos nós acabamos nos envolvendo, uma hora ou outra nos resultados dessa também "pandemia". 

Vê-se tudo isso com relação à COVID-19. 

Temos à nossa frente ou atrás, do nosso lado esquerdo ou direito, uma doença provocada por um vírus que, infelizmente, a ciência, que trabalha com critérios metodológicos, ainda náo tem respostas sobre a mesma. Até aqui (tenho lido a literatura científica sobre), o que se sabe é: uma doença causada por vírus, o Coronavírus, o mesmo da gripe, mas numa versão que pssou por multação, de contágio rápido em grande escala em pouco tempo e com uma letalidade superior a todos os outros de sua mesma espécie.  Não há medicamentos específicos para a sua cura e nem vacina. Só estudos em andamento. 

É uma patologia ainda em estudo, sem muitos resultados positivos com relação ao controle, está no mundo inteiro, não é só no Brasil, o que permite usar o termo "pandemia" para a sua intensa presença na Terra. O Ocidente e o Oriente estão em completa vigilância e a ciência trabalhando. A única certeza é que, isolar-se, evitar "ajuntamento de gente" é uma forma de evitar a sua expansão. 

No mundo todo já matou milhares de pessoas. Os números atuais são de 2.486.964 (dois milhões, quatrocentos e oitenta e seis mil e nocentos e sessenta e quatro) pessoas infectadas; são 170.507 (cento e setenta mil e quinhentos e sete) mortos. Pessoas que conseguiram, provalvelmente por causa de sua situação imunológica (não porque tomou um remédio) serem curadas somam 653.798 (seissentos e cinquenta e três mil e setecentos e noventa e oito). Mas, não se tem conhecimento, ainda, se estão imunizadas, como é mais comum acontecer nas doenças causadas por vírus. 

No Brasil, as mortes beiram o número de  3.000 (três mil), são 2.741 (dois mil setecentos e quarenta e um) mortos por covid-19 de 43.079 (quarenta e três mil e setenta e nove) casos confirmados. Situações preocupantes sobre a doença em alguns estados, como Amazonas, mais especificamente na capital Manaus, em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará, por enquanto. Esperamos que não piore e que não se expanda para outras unidades da federação. 

Mesmo assim, com tantas pessoas que, seguramente, não teriam morrido se não fosse a chegada da doença, há quem prefira enveredar pelo tal OBSCURANTISMO, negando os estudos científicos, os resultados e os não-resultados obtidos. E o pior, a maioria absoluta dessas pessoas que negam tais evidências científicas se encaixam muito bem no caráter vergonhoso da expressão tão desonesta quanto corruputa do "esconder é melhor", com evidências publicizadas em discursos de políticos que estão no poder. Claro, com intenções nada boas com relação ao cuidado que um governante deve ter com o povo da nação. 

Não se trata de negar a importância de cuidados às necessidades básicas do cidadão: o trabalho e a segurança alimentar, que são usados como argumentos para negar a necessidade de o povo ficar em casa quando puder, isto é, cumprir o ISOLAMENTO SOCIAL como única forma de conbater o ataque violento do Corona Vírus. Nunca ouvi de ninguém da área de saúde ou cientista dizer que todo mundo tem de ficar trancado em casa por meses, sem trabalhar e sem comer. Até porque a própria ciência tem a explicação para o resultado CATASTRÓFICO desta atitude. Mas, a ciência e as experiências óbvias vividas por cada um de nós também comprova que gente doente e morta não trabalha, o que seria também outra catástrofe. 

Conclui-se que, dependendo da realidade de cada indívíduo, o isolamento social é a medida mais correta: não ir para a rua sem necessidade, não abraçar, beijar ou ficar perto das pessoas porque há evidências de poder se contaminar e ter HIGIENE MÁXIMA com as mãos, a roupa, o corpo, com a comida, a bebida e buscar quais são os estudos mais recentes que a ciência disponibiliza, para se ter conhecimento sobre  a doença. Tudo isso é atitude que faz parte da defesa pessoal de cada um de nós e que não é Decrteto de governo que garante, mas a consciência individual que acaba por atingir o social. 

De forma alguma, esconder é o melhor!

Por Mônica Freitas




Em quem você confiaria mais: Luiz XIV ou Bolsonaro?


Ilustração na postagem no Facebook do professor. 


A análise é do professor DR. SEVERINO CABRAL FILHO, que escreve: 


Entre "a constituição sou eu", de Jair Bolsonaro, e "o Estado sou eu", de Luís XIV (1638-1715; reinou de 1643 a 1715), há diferenças de vários níveis. Discorrer sobre os dois personagens em seus devidos contextos históricos deixaria essa postagem demasiadamente longa, mas quero deixar claro que não há registro histórico que comprove que Luís XIV tenha proferido a famosa frase. Tentarei ser sintético.
Nós, brasileiros, fazemos piada de tudo. E muitos de nós aproveitamos essa 'deixa' para associar os devaneios imperiais de Bolsonaro com a experiência histórica do Absolutismo francês sob Luís XIV.

Mas não se deve brincar com a História. Não há como comparar Bolsonaro a Luís XIV a não ser como piada de mau gosto.

Luís é tido e havido pelos historiadores como o arquétipo do rei absolutista: esclarecido; amante da guerra e das artes: guerreiro e bailarino ao mesmo tempo; hábil administrador e estrategista. Muito vaidoso (quem não seria em sua posição?), mas também político habilidoso, o "rei Sol" foi o primeiro monarca moderno a ordenar a construção de sua imagem pública usando para tanto todos os meios midiáticos e artísticos disponíveis em seu tempo - no que foi imitado pelos seus rivais na Europa e fora dela -, conforme o excelente livro "A fabricação do rei: a construção da imagem pública de Luís XIV", do historiador Peter Burke.

Luís elevou a França, suas riquezas, sua educação, sua arte, sua cultura, as relações entre Estado e sociedade; mandou edificar obras eternas, verdadeiros patrimônios culturais do Mundo (basta citar o Palácio de Versailles como referência); um mestre na auto propaganda. Como era ainda comum à época, Luís XIV massacrou impiedosamente os seus inimigos. No entanto, Luís XIV não podia tudo, como às vezes deixa transparecer a ideia de "rei absolutista".

Perry Anderson, um dos mais destacados historiadores do século XX, escreveu "Linhagens do Estado Absolutista", livro que é considerado pela crítica historiográfica uma das melhores obras acerca do absolutismo ocidental. Aqui, Anderson apresenta, cristalinamente, quais os limites do Absolutismo e, portanto, do rei absolutista: "A monarquia absoluta no Ocidente esteve sempre, de fato, duplamente limitada: pela persistência de corpos políticos tradicionais abaixo dela e pela presença de um direito arqui-moral acima dela", ou seja, as cortes (ou os parlamentos) e o sistema de justiça à época impediam que a vontade absoluta, pessoal, do rei, desconsiderando os interesses do Estado, se realizasse em detrimento da sociedade. Trata-se, pois, de um absolutismo mais retórico que real.

Vamos a Jair Bolsonaro. Militar de carreira, chegou à patente de capitão do Exército brasileiro, de cuja força foi convidado a se retirar por "práticas incompatíveis com a honra militar" (essa é uma das razões mais recorrentemente lembradas, de acordo com o seu rumoroso processo de expulsão da Força onde, por razões pouco claras, o capitão, ao invés de ser expulso, acabou sendo compulsoriamente reformado). 

Um mau militar, de acordo com a avaliação insuspeita do ex-presidente da República General de Exército Ernesto Geisel.

Um deputado federal que, em quase três décadas de sucessivos mandatos, jamais fez ou propôs algo relevante para o País. Baixíssimo clero, uma piada entre os seus pares.
Foi eleito presidente da República numa circunstância completamente atípica (pano para mangas de muitas dissertações e teses).

Defende, abertamente, a tortura e os torturadores. Sugeriu uma ditadura que matasse pelo menos 30 mil brasileiros. É alucinado por armas de fogo.

Tem feito uma "gestão" do Estado brasileiro cuja política externa está completamente submetida aos interesses dos EUA sem qualquer contrapartida, sem que se observe o princípio da reciprocidade entre as nações, como sugerem as boas práticas diplomáticas contemporâneas.

Incapaz de um discurso articulado, manifesta-se, prioritariamente, por meio de redes sociais, onde é apoiado por pessoas reais, zumbis e robôs. Odeia a crítica de qualquer matiz. Não é um homem confiável; os seus apoiadores de primeira hora e que se viram defenestrados do seu governo e de suas relações que o digam.

Despreza a ciência e os cientistas, com quem briga quase todos os dias. Nutre um ódio indisfarçável pela universidade pública. Nutre um ódio indisfarçável pelo conhecimento. É homofóbico, já revelou-se racista e misógino. Há indícios de fortes ligações suas e dos seus filhos com as milícias do Rio de Janeiro.

Agora, durante a pandemia do Coronavírus, tal qual um genocida, coloca a população brasileira sob grande risco ao desprezar as práticas preventivas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde; práticas adotadas por quase todos os governantes da Terra.

Ele rebela-se contra os poderes constitucionais. Declara guerra diária ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal.

Sim, Bolsonaro proferiu a frase "a constituição sou eu". Uma lástima!


Dr. Severino Cabral Filho - Universidade Federal de Campina Grande(UFCG)

segunda-feira, 23 de março de 2020

OS PARABÉNS DOS PAIACU À TERRA DOS TAPUIA PAIACU




Hoje Apodi completa seus 185 anos. O momento não permite uma festa aglomerada de gente, nem um bolo gigante para ser dividido com o seu povo, que carrega na sua cultura linguística, alimentar e em alguns costumes diários atitudes, crenças, modos de vida que, mesmo inconscientemente vividos e disseminados têm origem na intercalação do processo cultural entre o branco e o indígena. No entanto, nessa cultura, por mais que seja negado, prevalece fortemente impregnado o aspecto do culto indígena, em especial nas atividades agrícolas, em que o cultivo de produtos originários das vivências Tapuia Paiacu.

É inegável o quanto a carga cultural da etnia que vivia na aldeia às margens do Rio Pody e da Lagoa Itaú no século XVII, em sua forma originária e, que ainda prevalece na sua ascendência atual influencia os discursos no meio social e político. Não obstante às atitudes de negação da existência do povo é comum ouvir de prefeitos, vereadores e demais políticos e gorvernantes, constantemente a frase: “APODI, TERRA DOS TAPUIAS PAIACUS”.

Apesar do processo de aldeamento em Portalegre, quando grande parte do povo Paiacu foi levado àquela serra por volta de 1760, é importante que saibamos que uma boa parte de índios permaneceu trabalhando na Paróquia, fundada pela Missão de São João Batista e em casas de famílias. Houve também casamentos de índias com brancos, o que jamais elimina por completo a genealogia descendente da referida etnia. E é isto que garante a permanência da ideia de que estamos sim situados na “Terra dos Tapuia Paiacu”.

Além do mais, Apodi surge a partir da Aldeia Paiacu, situada às margens da Lagoa do Apodi  - nome atual – basta olharmos a localização da Igreja Matriz, das construções antigas que formaram o Centro da Cidade, a antiga feira e tudo que foi historicamente construído muito próximo das margens da lagoa, onde estava situada a taba indígena, com diversas palhoças (casas de Paiacu).  

É bem verdade que até pouco tempo não tínhamos nenhuma análise mais profunda sobre essas informações porque o homem que se diz “branco” descendente de europeu e detentor do domínio político foi quem se encarregou, estritamente de contar a história. Apodi, ouviu e divulgou alardeadamente a história das famílias brancas. Ninguém, quase nunca se deu conta de que nossa população é mais parda do que branca; de que nosso povo é culturalmente voltado para costumes e devoções que misturam fortemente a superstição xamã às crenças cristãs. E também não tivemos uma análise mais aprofundada de que tudo isso foi feito em cumprimento ao que se pensou fazer com base na ideia de que era possível “embranquecer a sociedade”.

Enfim, Apodi chega ao momento de sua emancipação em 1833, quando esta foi requerida e a sua confirmação em 23 de março de 1935, com a carga do silenciamento ocorrido pelo massacre de 1825 na Serra de Portalegre quando foram mortos dezenas de índios de uma só vez em um fuzilamento sangrento e covarde, com famílias indígenas em quarentena (a palavra da moda no momento), em suas casas, para que nunca mais saíssem ao convívio social, mesmo sabendo de sua identidade.

É novidade, porém é aceitável historicamente, basta pesquisarmos os diversos estudos que indicam a prevalência de indígenas em toda a nossa região: o povo Paiacu ainda existe, não foi eliminado, as suas raízes estão vivas, até no discurso popular. O assunto vem à tona a partir de 2013, quanto o Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacu da Lagoa do Apodi (CHCTPLA) foi fundado por Lúcia Paiacu Tabajara (nome oficializado a partir de análise jurídica da Comarca de Apodi), hoje liderança do povo Paiacu do Apodi, grupo reconhecido pela FUNAI como uma das comunidades indígenas do Rio Grande do Norte, estado que teve negação da existência de povos indígenas até o ano de 2005, quando estudos realizados por antropólogos abriram espaços para uma nova compreensão sobre esta temática.

O CHCTPLA, formado estritamente por pessoas que têm relato de pertencimento ao povo Paiacu, vem desejar parabéns à nossa cidade, ao nosso lugar de origem, congratular a sua emancipação política, mas, sem esquecer que é POLITICAMENTE que tendemos a ser NEGADOS. Sim, pois, apesar da frase “Terra dos Tapuias Paiacus”, saída tantas vezes das bocas de governantes, famílias que compõem esta entidade são olhadas atravessadas, com desconfiança e com a propagação de pensamentos que contrariam a preservação identitária, étnica e cultural.

Estamos no processo de construção de um museu, hoje situado em prédio que até bem pouco tempo era abandonado, mas, pertencente ao PODER PÚBLICO ESTADUAL. A sua reforma para a transformação no Museu Luiza Cantofa tem sido lenta, pela falta de recursos, pois o povo associado à entidade é de família pobre – sim, as famílias Paiacu de Apodi, desde o início, permaneceram pobres – e isso faz com que tudo se torne muito difícil. Ultimamente, a única ajuda recebida é de um voluntário, também descendente  do povo Paiacu que reside fora do Brasil, um empresário que conseguiu o sucesso empresarial e hoje auxilia com doações para a reforma do prédio, juntamente com outras pessoas de Apodi, que também contribuem para que um dia possamos ter um lugar para expor nossa história.

Enquanto isso não ocorre, estamos aqui, torcendo por nosso lugar de origem, mas, conscientemente relembrando que a “Terra dos Tapuias Paiacus” não é apenas uma frase que serve de recurso estilístico ao discurso. Há mais verdade nisso do que o enfeite.

PARABÉNS MEU APODI, PELOS 185 ANOS.

Por Mônica Freitas 



domingo, 5 de janeiro de 2020

Crônica

Já rasgaram tanto a Constituição, mas tanto, que não tem mais o que rasgar. Virou pó. A metáfora perdeu a validade, por desgaste natural. 

E na falta da possibilidade de continuar rasgando a Constituição, rasga-se livros. Esse "montão de amontoados" de palavras inúteis que só servem para torrar os nossos neurônios. 

Rasga-se o Código Penal, rasga-se a CLT, rasga-se o manual básico de jornalismo, rasga-se o contrato social que não pode rasgado porque nem está em papel. 

O mundo anda rasgando muita coisa por aí também. A ONU praticamente foi jogada em um fragmentador de papel. Tudo o que eles dizem e publicam não se escreve. Se escreverem, ato contínuo, rasga-se. 

Vivemos a era do rasgação. Rasga-se as famílias, rasga-se a tolerância, rasga-se o respeito, rasga-se a possibilidade de sonhar. 

Metáfora de si mesma, a palavra 'rasgar' debuta como estrela de cinema em nossa surrada cadeia significante. 

"Chega rasgando", diz o coach para seu pupilo que busca o primeiro milhão e sua frio porque vai se reunir com o CEO da empresa. 

Tem o assessor de politico também que vive "rasgando a seda" do patrão. É pago para isso.

Aliás, eu trocaria fácil "rasgar a seda de patrão", por "rasgar o patrão". Essa tradição brasileira poderia ser corrigida não fosse a maldita palavra "seda".

Mas patrão, o brasileiro não rasga. Brasileiro gosta de patrão. Acha que o patrão é uma pessoa de sucesso que paga o seu salário.

O Brasil tinha que rasgar com essa tradição de subserviência explícita. Rasgar o 'dotô', rasgar a concentração de renda pornográfica, rasgar a Rede Globo que vive rasgando a verdade e o nosso cérebro.

Mas aqui, nesta terra que não é do nunca, mas é do "sempre", rasgar os próprio direitos é que é gostoso. Sem Previdência Social? Viva! Sem direitos trabalhistas? Show! Sem direito a um judiciário digno do nome? É nóis!

Rasgar é o maior barato. Quem nunca rasgou a fantasia? Saltou nas tamancas? Caiu dentro?

Festas populares também são boas para sair "rasgando" por aí.

No carnaval, veremos o país inteiro gritar "Fora, Bolsonaro" para na quarta-feira de cinzas, todos voltarem a trabalhar resignados, pagando seus impostos com gosto, rasgando e jogando no lixo a própria indignação que, afinal, foi apenas para dar o clima da festa.

Quem paga imposto, aliás, é o brasileiro pobre, claro, porque o brasileiro rico rasga seu prontuário do imposto de renda (ou frauda, com despesas de dentista e dependentes que não existem).

É uma rasgação geral. Por isso, foi tão fácil rasgar a Constituição.

No Brasil, a arte de rasgar vai bem, obrigado. Brasileiro gosta de verbos insinuantes, 'tripudiar', 'intimidar', 'sacanear'. Nada de 'respeitar', essa coisa chata e sem sal.

'Rasgar' tem cifras tensivas sedutoras, lascivas, cadenciadas. É um ato subversivo, mas desacelerado: não se 'corta', se rasga. Separa-se duas partes de um todo, mas de maneira quase sádica, saboreando o processo.

'Rasgar' também pressupõe a presença das 'mãos', metáfora máxima da ação humana. Quando se rasga a Constituição, não se a despreza ou a ignora, pura e simplesmente: trava-se uma relação passional com ela, dolorosa, ambígua, contínua, com revestimentos de ódio e despeito.

Não à toa este sentido estava presente de maneira literal em nosso destino histórico: rasgou-se o abdome do político que mais representa a ruptura cortante com todo e qualquer valor civilizatório sofregamente já costurado no tecido social do Brasil.

Rasgou-se a civilização.

O Brasil virou um fiapo, um amontoado de estopa pronto a dar brilho nos carros milionários de nossa elite reluzente que foi quem mais lucrou com tudo isso. É só passar a cera do nosso jornalismo branco que o brilho virá.

Não à toa, "passar o pano" também se tornou outra metáfora largamente usada nas codificações públicas de turno. É preciso limpar a sujeira deixada diariamente por nossos governantes. O jornalismo está cumprindo abnegadamente este papel, papel que tento em vão rasgar todos os dias nessas intermináveis crônicas de costumes.

Diante de tudo isso, o brasileiro só não rasga dinheiro porque o dinheiro acabou. E porque se rasgasse dinheiro, poderia ser confundido com um louco - o que seria um avanço fora de lugar dadas as atuais circunstâncias.

Só me resta pedir desculpas a você, querido leitor, por não poder rasgar esta crônica, já que ela é digital. Posso sugerir no entanto, que a imprima. Assim, poderá rasgá-la com todo amor e degustar devidamente o fecho trágico desses dez minutos de leitura pelos quais inadvertidamente passou.

Só não rasquem a seda de quem quer que seja, por favor. Sedas ainda são úteis no mercado do esquecimento.

(Via página Gustavo Conde/Facebook)